Dicas de pilotagem e comportamento para
quem pilota acompanhado
Como recentemente fomos ameaçados de não
poder mais levar garupas em nossas motos – devido ao projeto de lei que um
deputado paulista tentou passar – achei oportuno reciclar um texto publicado há
quase quatro anos, sobre esse tema.
A experiência motociclística para a
maioria de nós pode ser considerada única e simplesmente indescritível. Dividir
essa emoção com pessoas queridas é algo que deve ser feito com cuidado e bom
senso. A pilotagem com garupa modifica consideravelmente a configuração
operacional de uma moto. As dicas a seguir têm como objetivo oferecer maior
interação entre piloto e garupa, gerando melhor equilíbrio e segurança para
ambos.
Equipamento
de segurança
Todos os itens de equipamentos de segurança
do piloto se aplicam também à garupa. Não é porque não está no comando que ele
ou ela não tem a mesma necessidade de proteção, uma vez que está exposta aos
mesmos riscos e energias que atuam sobre você. Certifique-se de que o
equipamento oferecido seja de qualidade igual ou superior à sua, afinal de
contas, não levamos atrás pessoas de quais não gostamos, não é mesmo? O
capacete deve estar em ótimas condições e dentro de seu prazo de validade. Não
dê à sua companhia um capacete seu que não utiliza mais – ela deve ter um
capacete que sirva à sua forma de caixa craniana. O mesmo vale para as roupas
de proteção e luvas. As mulheres devem ser orientadas quanto à falta de
funcionalidade de um calçado com salto, abdicando dos mesmos por outros de uso
motociclístico.
Responsabilidade
O principal fator a ser considerado na
pilotagem com garupa é a responsabilidade que temos sobre uma pessoa que não
tem qualquer poder decisório, mas, no entanto, pode influenciar o movimento
positiva ou negativamente, dependendo do grau de familiaridade que tem com o
processo. Esse poder de influenciar, mesmo que minimamente, gera a necessidade
de se instruir adequadamente a pessoa que senta atrás, e delega sua vida em
nossas mãos, no controle da moto.
Independente da garupa ter familiaridade
com sua pilotagem ou não, repasse os procedimentos que irá adotar, para que
haja clareza. É uma franca demonstração de respeito e cuidado que certamente
será apreciada. Normalmente esse cuidado acaba refletindo na atenção que a
pessoa terá em toda a pilotagem, aumentando consideravelmente o nível de
segurança de ambos.
Posicionamento
Comece por orientar como se sentar apropriadamente
para obter certo conforto e principalmente segurança. A pessoa deve se sentar de tal forma a ter
proximidade corporal com o piloto, e essa proximidade deve ser o suficiente
para que haja contato corpóreo, sem que esse contato possa de qualquer forma
restringir os movimentos do piloto. Essa proximidade permite que a pessoa se
sinta amparada e confiante durante a pilotagem. Deve lhe ser indicada a forma
de se segurar, que varia com o tipo da moto. Algumas possuem dispositivos para
essa finalidade, enquanto outras não. Em uma grande maioria de motos que
possibilitam essa proximidade, a maneira mais eficiente de se manter estável é
usar os joelhos para fazer pequena pressão sobre o quadril do piloto. Dessa
forma, estabiliza-se o quadril e as pernas, permitindo que o tronco possa
promover pequenos movimentos laterais que ajudarão a manter o equilíbrio. As mãos podem ser posicionadas em lugares
como cintas ou alças para essa finalidade, ou na cintura do piloto, desde que
não restrinjam seus movimentos.
Os pés devem ser apoiados nas
pedaleiras, na altura das juntas dos dedos, ponto que oferece a maior
sensibilidade de apoio e possibilita que seja exercida pressão controlada. Indique
que mudar o posicionamento dos pés é possível, e até mesmo desejável, principalmente
quando se tratar de longas distâncias – mas para tanto, é necessário entender
que os movimentos devem ser curtos e lentos, para não prejudicar o equilíbrio. Para
motos que possuem plataformas invés de pedaleiras, a garupa deve posicionar os
pés integralmente sobre elas, de maneira a não permitir que parte de seu
calçado fique fora das dimensões da plataforma, oferecendo possibilidade de
contato externo.
Em algumas motos não existe a
possibilidade de se sentar próximo ao piloto devido à configuração dos bancos,
que fisicamente separam as duas pessoas. Nesses casos, a pessoa que vai atrás
deve ser instruída a manter uma condição neutra de inclinação corporal,
tentando apenas acompanhar a inclinação que a moto virá a ter, e não o que o
piloto irá praticar. Explique que por vezes terá que fazer mudanças corporais
objetivando administrar o centro de gravidade, e que a neutralidade atrás,
facilita sua tarefa – o peso da garupa é gerenciado como fazendo parte da
própria moto. Já nas motos onde o contato é possível, a garupa deve ser
orientada para acompanhar os movimentos do piloto, jamais se colocando em
oposição aos seus gestos. A cabeça deve ser posicionada de maneira a permitir
um olhar distante na direção em que se está indo. Podendo ver o que acontece a
frente, a pessoa tem possibilidade de antecipar os eventos, e se preparar
adequadamente para eles. Diante de curvas, a cabeça da garupa deve estar sempre
do lado interno da curva, permitindo que lance seu olhar na extensão da mesma.
Esse gesto simples também serve de referência ao piloto, indicando se sua
companhia está atenta à pilotagem, ou não. Ressalte a necessidade de olhar o
quanto mais distante for possível.
Procure orientar também quanto à
proximidade dos dois capacetes, indicando que certa atenção deve ser dada para
que eventuais toques entre os mesmos não tirem sua atenção da pilotagem, pelo
desconforto que ocasionam.
Explique as reações que advêm da
aceleração e frenagem, indicando – e até mesmo demonstrando – as forças que
nossos corpos estão sujeitos, e como equilibrá-las. Enfatize a necessidade de
certa rigidez abdominal durante esses processos, bem como as vantagens de se
manter as costas retas. Saliente que todo e qualquer movimento da garupa na
moto deve ser ponderado, calmo e de curta duração. A pessoa deve ter ciência
que cada movimento seu terá de ser compensado de alguma forma pelo piloto.
Pilotagem
A forma de pilotar quando se leva uma
pessoa atrás deve ser significativamente diferente da pilotagem solo. A
suavidade é essencial, por isso as distâncias para aceleração e frenagem devem
no mínimo duplicar. A forma como se manuseia o acelerador pode não ser
percebida segurando-se o guidão, mas basta alguns minutos na posição de garupa,
para perceber como mudanças bruscas na aceleração afetam quem se encontra nessa
posição. O mesmo princípio se aplica a frenagem – planeje conseguir a
desaceleração necessária usando as reduções do câmbio e eventualmente a adição
do freio traseiro, reservando a força do freio dianteiro apenas para as situações
realmente necessárias. O planejamento é essencial – promova uma interação com o
meio que possa trazer a suavidade descrita acima.
Durante os processos de curva, procure
obter gradativamente a inclinação, evitando mudanças bruscas de direção, para
não assustar sua companhia. A suavidade no movimento permite que ela tenha mais
tempo para entender e se preparar para o
que está havendo, principalmente se for inexperiente. Considere que sentar
atrás sem ter o que fazer é mais cansativo que pilotar, por isso, planeje
paradas mais freqüentes e com maior duração.
O maior peso na parte traseira também
muda o centro de gravidade, deslocando-o para trás. Isso faz com que a operação
no guidão também seja sensibilizada porque um menor peso incide sobre essa roda
– a energia que dispensa ao guidão terá que ser ajustada. Se a moto permitir
alguma regulagem na suspensão, deve-se considerar um endurecimento na suspensão
traseira, que facilitará melhor equilíbrio do conjunto. Proceda sempre com
regulagens mínimas, experimentando o resultado. O endurecimento excessivo
compromete a pilotagem além de causar desconforto.
O resultado de suas ações bem
direcionadas, certamente conquistará mais um fã para motociclismo! Divirtam-se!
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