sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cruzamentos

Saiba como agir em uma das piores formas de interação entre motos e outros veículos

Um dos piores aspectos de interação entre motos e outros veículos em qualquer contexto é certamente o cruzamento de trajetórias. Nessa edição, abordo o tema pela sua relevância para a segurança do motociclista, por apresentar facetas importantes que devem ser observadas com muita atenção.

Existem diversas formas e ângulos em que uma moto pode cruzar com a rota de um veículo maior que ela. Enquanto houver velocidade envolvida, estarão presentes todos os elementos obrigatórios em uma colisão – trajetória conflitante e velocidade relativa entre os objetos.

Atenção dividida

Do ponto de vista do motociclista, a pior situação que tem de enfrentar em cruzamentos é quando sua atenção tem que ser dividida entre lados opostos simultaneamente. É o caso dos cruzamentos com fluxo de todos os lados – frontal, posterior, da direita e da esquerda. A atenção deve ser exercida sequencialmente na direção que se pretende ir, resolvendo primeiramente o fluxo com o qual irá interagir em primeira instância. Parece complicado, mas exemplos irão lhe ajudar a visualizar o contexto mais à frente.

Observando o fluxo

Vejamos primeiramente um cruzamento simples, como atravessar uma rua que possui fluxo de ambos os lados. Tanto a esquerda quanto a direita devem ser observadas, mas quando escolher o momento de atravessar, deve primeiro se certificar de ter tempo e espaço suficientes para cruzar com o fluxo vindo da esquerda, e na sequencia o da direita. Isso acontece porque dirigimos do lado direito da via, e nessa circunstância iremos interagir primeiramente com o fluxo que para nós vem da esquerda, e logo depois com o fluxo que vem da direita, até completar a travessia. No planejamento dessa travessia então, a atenção deve incidir da esquerda para a direita, livrando primeiramente qualquer tipo de conflito vindo dessa direção. Lembre-se sempre que as situações de cruzamento são as mais perigosas para nós, devendo exercer calma e ponderação na análise do fluxo que vem de ambas as direções, antes de tomar a decisão da travessia. Só devemos executá-la quando com certeza absoluta de que é possível atravessar sem constituir risco a nós próprios ou outras pessoas e veículos. Apesar de óbvio, ficaria surpreso de quantas colisões são registradas por pura desatenção a esse pequeno detalhe de pra qual lado olhar primeiro.

Regras de ouro

Independente de qual forma se dá o cruzamento, é preciso notar que as pessoas não cometem – em sua maioria – desatinos porque assim desejam, mas por força das circunstâncias, sejam elas justificáveis ou não. Isso colocado, temos que fazer a nossa parte quando cruzamos a trajetória de outros veículos, posicionando-nos de forma a ficar visíveis para os motoristas envolvidos. A grande maioria das colisões envolvendo a moto teve como desculpa a incapacidade do motorista em ver a aproximação da moto – seja pelo ângulo exercido ou pela velocidade de aproximação. A regra de ouro é sempre tentar ver o rosto do motorista dentro do veículo, seja diretamente ou através do espelho retrovisor do mesmo. Se você pode vê-lo, indica que ele também tem a capacidade de vê-lo – o que não é por si só certeza de ter sido visto. Mas pelo menos estará fazendo a sua parte. É vital que a velocidade de interação permita que ambos – você e o motorista – tenham tempo para se certificar que um viu o outro. Outra regra importante para o motociclista é assumir diante de todo cruzamento que a preferencial é SEMPRE do outro, mesmo sabendo que isso é mais fácil ser falado do que praticado. Pela diferença de massas, o lado que sempre sairá prejudicado em uma colisão, será o nosso. Existem exemplos aonde isso é quase impraticável, mas ainda assim, uma ponderação mostra que com bom senso, é possível diminuir os riscos. É o caso de se estar em uma rodovia com cruzamento em nível de vias menores e de menor fluxo. O cenário é típico das estradas litorâneas, onde muitos acessos à praias e retornos se dão dessa forma. Estando na rodovia, estará exercendo uma velocidade compatível com ela, mas incompatível para cruzar com um veículo no mínimo quatro vezes maior que o seu. O correto é diminuir a velocidade para uma que permita uma mudança brusca de direção e frenagem em tempo, e sinalizar sua presença com o uso do farol e até da própria buzina. Isso pode implicar em tambem ter de sinalizar para o fluxo que vem atrás de você, para não se colocar em risco de uma colisão traseira. O pior erro que se pode cometer em tal situação é assumir que por estar em via preferencial, o outro tem a obrigação de zelar por sua segurança e que de fato o fará, parando na intersecção. Se não houver uma mudança na sua velocidade e se o outro não lhe tiver visto, será um sério candidato a ocupante de leito hospitalar, se não for pior. Infelizmente temos todos essa mania infernal de otimismo excessivo e sempre contamos que os outros farão a parte que lhes cabe. É preciso mudar essa mentalidade para uma que reflita com maior fidelidade a realidade do trânsito, imaginando sempre o pior. Pode ser mais neurótico conduzir assim, mas ninguem se machucou em qualquer tempo sendo cauteloso.

Confluência de vias

Outra situação que ilustra a necessidade de método para interação com cruzamentos é a convergência com uma via rápida, exigindo adequação a velocidade dessa próxima via. É o caso, por exemplo, de acessos à uma rodovia, que acontecem de forma oblíqua, na diagonal. Entendendo que nesse tipo de situação não deve existir parada no entroncamento para que o fluxo não pare, é preciso se ajustar à velocidade da via seguinte observando tanto o trânsito na sua frente como o da própria rodovia com a qual irá afluir. No entanto, a via em que está no momento requer maior atenção porque é com seu fluxo que está interagindo naquele instante, exigindo maior atenção com os veículos à sua frente do que com o ajuste da velocidade para com a próxima. Se porventura tiver um carro na sua frente e ele por qualquer razão parar no entroncamento enquanto estiver visualizando o fluxo lateral, no momento que voltar a visão para frente, se deparará com uma situação onde o tempo será critico para tomar a decisão de frear e desviar. Isso supondo que o tempo exista. Essa situação já vivenciei de fato, e a queda resultante me custou uma cirurgia no punho e dois anos de recuperação.

Noite e chuva

Se de dia é perigoso enfrentar cruzamentos, que dirá à noite? Tenha sempre em mente que uma moto não possui qualquer tipo de iluminação lateral, e perpendicular à visão de um motorista, poderá literalmente desaparecer se não houver iluminação externa. Opte nessa circunstância em oferecer a passagem ao outro veículo como garantia de não ser atingido, evitando ao máximo cruzar a sua frente. Ao parar nesses cruzamentos, aproveite a mobilidade da moto para parar diagonalmente, oferecendo um pouco da visão de seu farol e lanterna traseira tanto para os veículos com os quais irá cruzar como aqueles que estiverem atrás de você. O mesmo raciocínio de falta de visão se aplica para as situações de chuva, onde a visibilidade é muito restrita. Com as chuvas que vem caíndo ultimamente, tenho a tendência de agregar também o stress que os motoristas enfrentam, tentando fugir de possíveis alagamentos e prejuízos. A chuva cominada com o medo de ficar preso em um lugar e a pressa em se desvencilhar de tal situação, são elementos muito perigosos e devem ser combatidos pelo motociclista com serenidade, paciência e bom senso. Jamais permita que uma situação por si só complicada tenha o potencial de tragédia, por causa de pressa ou desconforto. É preferível chegar molhado a deixar de chegar.

Por fim, mas sem nem de longe esgotar o assunto, tenha em mente os pontos cegos de um motorista e como impactam na sua linha de visão. A coluna de um carro oferece maior restrição visual para o motorista do lado esquerdo que do lado direito – porque a proximidade da sua visão com o obstáculo angularmente retira mais do meio externo do que a coluna do lado direito, essa mais distante de seus olhos. No caso de veículos grandes como onibus e caminhões, exerça cuidado redobrado, pois têm pouca visão externa e precisam de maior tempo para abortar um curso de ação. Pilote sempre consciente das vantagens e desvantagens de se estar em uma moto.


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