quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Atitude mental

Ter uma atitude mental correta ajuda o motociclista a se inserir no meio em que opera com maior segurança

Alguns podem questionar o que a atitude mental tem a ver com pilotagem, mas basta observar atentamente como a pilotagem se processa para concluir sua relevância – antes de tudo, coletamos as informações a respeito do meio em que operamos através da visão e audição, interpretamos essas informações, e no final, trazemos alguma forma de solução para a interação. Conclui-se então, que a pilotagem em si é essencialmente um processo intelectual, onde a parte prática, a execução de manobras, nada mais é que a conclusão de um pensamento previamente elaborado.

Um motociclista está na maior parte do tempo operando em um meio hostil – os veículos ao seu redor são maiores e oferecem maior proteção aos seus usuários. Mais do que isso, a moto permite maior desenvoltura frente a maioria dos veículos com que interage, colocando-a constantemente em condições de ultrapassagem – além de maior risco. Essas características determinam que o usuário de uma motocicleta tem de estar totalmente focado em como procede com essa interação, porque lhe cabe oferecer segurança para si e para os demais, uma vez que está na maior parte do tempo interagindo de forma ativa com o trânsito, e não de forma passiva. Agora fica mais nítida a idéia de que um motociclista precisa ter uma atitude mental pro-ativa – uma vez que suas decisões afetarão a sua segurança, bem como a dos demais.

Serenidade
Todas as decisões tomadas por um piloto de moto devem ser tomadas de forma ponderada – com boa análise de todas as possibilidades relativas a uma situação. Para que isso seja exequível, ele ou ela não pode ter sua mente invadida por pensamentos alheios ao processo da pilotagem. Uma discussão familiar, um problema financeiro ou um mal estar físico, são exemplos de coisas externas que podem facilmente tomar a mente de qualquer pessoa. Um piloto consciente, tem de reconhecer essa possibilidade e criar os mecanismos necessários para impedir que aconteça. O pensamento que deve prevalecer no momento de iniciar a pilotagem é semelhante a esse:

"Nada é mais importante nesse momento que eu chegar a meu destino em segurança. Absolutamente nada. Todo o resto é secundário, e será tratado quando for a hora."

Uma frase como essa deve ecoar na mente do motociclista sempre que notar uma dispersão – pensamento que nada tem com o que está sendo executado naquele instante. Tente repetí-la mentalmente algumas vezes, para que seja fácil memorizar, e de fato usar, sempre que achar que sua atenção está indo para situações que não fazem parte da pilotagem daquele momento.

Iniciantes
Os pilotos iniciantes estão com suas mentes cheias de dúvidas e incertezas. As metas que estabelecem para si quanto a distância a ser percorrida ou o tempo que pilotarão, devem levar em conta suas aptidões e conhecimento do que estão se propondo a fazer. O ideal é que na fase inicial, o candidato a piloto estabeleça metas que se sinta razoavelmente confortável para executar. Digo razoavelmente, porque deve haver uma pequena incerteza para poder promover alguma evolução – no entanto, não pode ser tão crítica a ponto de comprometer a segurança. Se existem dúvidas quanto a algum procedimento com impacto na segurança, essas devem ser tratadas antes de se tentar a execução durante a pilotagem.
Pensamentos que incluam durante a pilotagem as palavras "acho", "talvez", ou semelhantes, devem ser afastados a todo custo – um motociclista tem poucas chances de errar. Deve ter bastante certeza do que está por vir, e as dificuldades que encontrará, racionalizando todos os possíveis problemas antes mesmo de acontecerem. Para esses futuros pilotos, o pensamento apropriado deve ser semelhante a esse:

"Vou dar o melhor de mim reconhecendo cuidadosamente minhas limitações. Ainda estou aprendendo, e quero continuar assim – sempre aprendendo mais."

Experientes
Pilotos experientes estão mais sujeitos a toda forma de incidentes, pois frequentemente, subjulgam as situações e os procedimentos apropriados, superestimando as próprias capacidades, sem base lógica consistente. Daí se verem envolvidos em situações difíceis, com frequência muito maior que um iniciante.
O aparente domínio do equipamento, acaba impulsionando esse piloto a considerar também estar no controle das situações à seu redor – mas a realidade é que há um limite no que pode ser controlado pelo piloto, e é absolutamente vital que haja o reconhecimento de que nem tudo está sob seu domínio, exigindo a previsão de uma margem de segurança.
Esses pilotos acabam se deixando influenciar por palavras que traduzem alguma forma de obrigatoriedade, como "preciso", "tenho que", permitindo que necessidades externas dominiem sua razão e o objetivo principal – voltar inteiro para casa. Além do pensamento inicial relativo a serenidade, esses pilotos devem mentalizar algo que lhes permita recolocar o foco nos procedimentos em execução:

"Os melhores pilotos do mundo erram – vou criar mais tempo para rever cada atitude que tomo, para minimizar essa possibilidade."

Ego
O ego de um motociclista é normalmente um pouco mais inflado do que o da maioria não pertencente a essa categoria. Todos nós acabamos em alguma instância vencidos pelo desejo de externar nosso conhecimento, habilidade ou maestria da moto. As exibições de ousadia frequentemente tem platéia, impulsionando ainda mais o imaturo, contra a prudência. Para tentar derrotar esses pensamentos estranhos, o piloto consciente deve tentar colocar o foco de seu pensamento em outra forma de recompensa:

"Vou pilotar somente para o meu prazer. O que os outros acham de minha pilotagem não é importante."

Outros pensamentos
Dominar nossos sentidos, percepções e habilidades é tarefa das mais complicadas – exige auto-conhecimento e postura madura que não estão presentes em todas as fazes de nossas vidas. Para os mais impetuosos é tarefa árdua e sistemática – tem de se auto-impor muita disciplina constantemente. Se você é assim, aí vão alguns pensamentos que me ajudaram a controlar minhas próprias ações:

"O prazer da pilotagem está na precisão, e não na ousadia."
"Quanto mais suave sou com o equipamento, mais suave é a sua resposta."
"Competir tem hora e local apropriado – cabe agora?"

Esse é um pequeno vislumbre da complexidade presente na pilotagem motociclística – considere suas implicações e domine seus pensamentos. Não permita que agentes externos e alheios ao ato de pilotar interfiram nesse processo. Apesar de pilotar uma moto trazer emoções difíceis de descrever, temos que mantê-las sob controle em prol da segurança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário