domingo, 22 de março de 2009

Explorando os limites


A busca por limites para o homem e a máquina não visa apenas desempenho, mas também segurança.

Muitos têm a idéia equivocada que a busca ou exploração de limites têm como único objetivo o aumento do desempenho, quando na verdade essa busca serve ao propósito da segurança também.
Observe o seguinte exemplo: um motociclista adquire uma moto nova, começa a pilotá-la baseado em sua referência e experiência pessoais adquiridos até então. Mas o equipamento novo tem características com as quais ele não tem total familiaridade, e mesmo podendo executar todas as tarefas triviais, não se aproxima nem de longe do que a moto é capaz de produzir. Se esse motociclista não se der ao trabalho de treinar frenagens de máximo desempenho, alguém em sã consciência poderia dizer que frente a uma situação real de emergência ele produziria esse tipo de frenagem, ou seria mais justo afirmar que dificilmente conseguiria produzir tal resultado? Parece obvio que as chances são de que não consiga executar uma ação satisfatória – exclusivamente por nunca haver tentado. Não se trata de habilidade, mas bom senso. A repetição de um procedimento focando os resultados é o que traz a proficiência. Por esse motivo é importante a exploração do que a moto é capaz de produzir em diferentes situações, para que tenhamos ciência de seus limites e com isso termos clara idéia de com o que podemos contar.
Do outro lado dessa equação está a própria habilidade do motociclista, que de tempos em tempos tem que ser colocada à prova, de maneira consciente e proposital, com o claro objetivo de aumentar sua capacidade de controlar a moto.


Aprendendo com a aviação
Esse conceito não tem nada de novo. Trouxe-o da aviação onde é praticado intensamente no treinamento de pilotos. Todos devem ter um mínimo de horas executando procedimentos de emergência para cada tipo de equipamento que operam. O treinamento das tripulações e a redundância de sistemas controladores é o que tornaram a aviação o meio de transporte mais seguro do planeta. Se adaptarmos essa metodologia para o nosso cotidiano, teremos condições muito melhores para lidarmos com todo tipo de situações, alem de uma ótica mais clara de como se desenrolam.
É necessário entender que a popularização do transporte pessoal – como o carro e a moto – impulsionaram-nos em direção a uma visão trivial de sua operação, como se fosse uma segunda natureza dirigir um carro ou pilotar uma moto. As estatísticas claramente apontam que esse caminho está errado. Cada vez mais se torna patente a necessidade de recobrarmos o controle da situação treinando com afinco todo tipo de procedimentos, objetivando minimizar os erros.

Identificando limites
O maior obstáculo do treinamento está na identificação dos limites. Para que sejam definidos é necessário ultrapassá-los, o que sempre traz conseqüências – algumas brandas outras severas. O segredo é sempre buscar de maneira gradativa melhorando pouco de cada vez. Normalmente o limite do procedimento estudado se apresenta de maneira clara e sem conseqüências graves, permitindo que haja um bom registro mental da situação. Vejamos a seguir alguns dos principais parâmetros que devem ser explorados por todos os motociclistas.

Frenagem
Para explorar a capacidade de frenagem de uma moto deve se levar em consideração parâmetros mutáveis que acabarão por produzir resultados distintos – o tipo de pavimento, sua temperatura e aderência, são alguns. O objetivo é tentar identificar até que momento uma roda pode ser freada sem proceder ao travamento, quando de fato passa a ser ineficiente. A busca por esse momento deve acontecer gradualmente, isolando todos os outros fatores, para que a atenção esteja toda na tarefa a ser realizada. O ideal é proceder com cada freio independente no início, combinando os recursos ao final. O maior risco incide sobre a roda dianteira, pois se essa for travada, quase sempre implicará em perda de controle. Já a roda traseira oferece menos riscos porque a perda de controle é mínima.

Inclinação
Toda moto tem seu limite de inclinação definido quando um terceiro ponto de apoio (além das duas rodas) é criado. Gradualmente se promove inclinações cada vez maiores até que esse terceiro ponto comece o contato com o solo. Na maioria das motos é representado pelo conjunto das pedaleiras. O engenheiro projetista previu em seu projeto que a moto possa ser levada a essas inclinações sem perda de aderência dos pneus, em situação normal de uso.

Objetivo e método
O objetivo de experimentar os limites de um equipamento deve ter como pensamento-guia identificar a gama de opções disponíveis, como descrito anteriormente. Uma vez que um limite é encontrado, fica claro como será seu melhor desempenho, mas a segurança estará em um ponto 50% inferior. Isso acontece porque no limite somente se pode diminuir a produção do que se está executando, enquanto em um ponto mediano, tem se a opção de evoluir tanto quanto de decrescer, aumentando o leque de opções. Quanto mais amplo, maior será a segurança gerada.
A melhor maneira de proceder com esse tipo de treinamento é escolher o lugar apropriado e concentrar toda sua atenção no exercício. Para isso poder acontecer, é primordial que se escolha um lugar longe de outras pessoas e veículos para não oferecer risco aos demais se alguma coisa der errado. Dessa forma também se minimiza o efeito psicológico de "platéia" que comumente distrai do propósito. Planeje a quantidade de vezes que executará cada procedimento para dimensionar a ênfase e energia que terá de aplicar em cada uma. Escolha um dia ameno, quando estiver calmo e despreocupado, garantindo o melhor desempenho de si. Se você ainda não conhece tudo que sua moto tem para lhe oferecer, agora tem uma boa razão para experimentar – a segurança. Pilote sempre equipado e aproveite!

Nenhum comentário:

Postar um comentário