segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Pilotando com garupa


A experiência motociclística para a maioria de nós pode ser considerada única e simplesmente indescritível. Dividir essa emoção com pessoas queridas é algo que deve ser feito com cuidado e bom senso.

A pilotagem com garupa modifica consideravelmente a configuração operacional de uma moto. As dicas a seguir têm como objetivo oferecer maior interação entre piloto e garupa, gerando melhor equilíbrio e segurança por conseqüência.

Equipamento de segurança
Todos os itens de segurança do piloto se aplicam também à garupa. Não é porque não está no comando que ele ou ela não tem a mesma necessidade de proteção, uma vez que está exposta aos mesmos riscos e energias que atuam sobre você. Certifique-se de que o equipamento oferecido seja de qualidade igual ou superior à sua, afinal de contas, não levamos atrás pessoas de quais não gostamos, não é mesmo? O capacete deve estar em ótimas condições e dentro de seu prazo de validade. Não dê à sua companhia um capacete seu que não utiliza mais – ela deve ter um capacete que sirva à sua forma de caixa craniana. O mesmo vale para as roupas de proteção e luvas. As mulheres devem ser orientadas quanto à falta de funcionalidade de um calçado com salto, abdicando dos mesmos por outros de uso motociclístico.

Responsabilidade
O principal fator a ser considerado na pilotagem com garupa é a responsabilidade que temos sobre uma pessoa que não tem qualquer poder decisório, mas, no entanto, pode influenciar o movimento positiva ou negativamente, dependendo do grau de familiaridade que tem com o processo. Esse poder de influenciar, mesmo que minimamente, gera a necessidade de se instruir adequadamente a pessoa que senta atrás, e delega sua vida em nossas mãos, no controle da moto.
Independente da garupa ter familiaridade com sua pilotagem ou não, repasse os procedimentos que irá adotar, para que haja clareza. É uma franca demonstração de respeito e cuidado que certamente será apreciada. Normalmente esse cuidado acaba refletindo na atenção que a pessoa terá em toda a pilotagem, aumentando consideravelmente o nível de segurança de ambos.

Posicionamento
Comece por orientar como se sentar apropriadamente para obter certo conforto e principalmente segurança. A pessoa deve se sentar de tal forma a ter proximidade corporal com o piloto, e essa proximidade deve ser o suficiente para que haja contato corpóreo, sem que esse contato possa de qualquer forma restringir os movimentos do piloto. Essa proximidade permite que a pessoa se sinta amparada e confiante durante a pilotagem. Deve lhe ser indicada a forma de se segurar, que varia com o tipo da moto. Algumas possuem dispositivos para essa finalidade, enquanto outras não. Em uma grande maioria de motos que possibilitam essa proximidade, a maneira mais eficiente de se manter estável é usar os joelhos para fazer pequena pressão sobre o quadril do piloto. Dessa forma, estabiliza-se o quadril e as pernas, permitindo que o tronco possa promover pequenos movimentos laterais que ajudarão a manter o equilíbrio. As mãos podem ser posicionadas em lugares como cintas ou alças para essa finalidade, ou na cintura do piloto, desde que não restrinjam seus movimentos.
Os pés devem ser apoiados nas pedaleiras, na altura das juntas dos dedos, ponto que oferece a maior sensibilidade de apoio e possibilita que seja exercida pressão controlada. Para motos que possuem plataformas invés de pedaleiras, a garupa deve posicionar os pés integralmente sobre elas, de maneira a não permitir que parte de seu calçado fique fora das dimensões da plataforma, oferecendo possibilidade de contato externo.
Em algumas motos não existe a possibilidade de se sentar próximo ao piloto devido à configuração dos bancos, que fisicamente separam as duas pessoas. Nesses casos, a pessoa que vai atrás deve ser instruída a manter uma condição neutra de inclinação corporal, tentando apenas acompanhar a inclinação que a moto virá a ter, e não o que o piloto irá praticar. Explique que por vezes terá que fazer mudanças corporais objetivando administrar o centro de gravidade, e que a neutralidade atrás, facilita sua tarefa – o peso da garupa é gerenciado como fazendo parte da própria moto. Já nas motos onde o contato é possível, a garupa deve ser orientada para acompanhar os movimentos do piloto, jamais se colocando em oposição aos seus gestos. A cabeça deve ser posicionada de maneira a permitir um olhar distante na direção em que se está indo. Podendo ver o que acontece a frente, a pessoa tem possibilidade de antecipar os eventos, e se preparar adequadamente para eles. Diante de curvas, a cabeça da garupa deve estar sempre do lado interno da curva, permitindo que lance seu olhar na extensão da mesma. Esse gesto simples também serve de referência ao piloto, indicando se sua companhia está atenta a pilotagem, ou não.
Procure orientar também quanto à proximidade dos dois capacetes, indicando que certa atenção deve ser dada para que eventuais toques entre os mesmos não tirem sua atenção da pilotagem, pelo desconforto que ocasionam.
Explique as reações que advêm da aceleração e frenagem, indicando – e até mesmo demonstrando – as forças que nossos corpos estão sujeitos, e como equilibrá-las. Enfatize a necessidade de certa rigidez abdominal durante esses processos, bem como as vantagens de se manter as costas retas.

Pilotagem
A forma de pilotar quando se leva uma pessoa atrás deve ser significativamente diferente da pilotagem solo. A suavidade é essencial, por isso as distâncias para aceleração e frenagem devem no mínimo duplicar. A forma como se manuseia o acelerador pode não ser percebida segurando-se o guidão, mas basta alguns minutos na posição de garupa, para perceber como mudanças bruscas na aceleração afetam quem se encontra nessa posição. O mesmo princípio se aplica a frenagem – planeje conseguir a desaceleração necessária usando as reduções do câmbio e eventualmente a adição do freio traseiro, reservando a força do freio dianteiro apenas para as situações realmente necessárias. O planejamento é essencial – promova uma interação com o meio que possa trazer a suavidade descrita acima.
Durante os processos de curva, procure obter gradativamente a inclinação, evitando mudanças bruscas de direção, para não assustar sua companhia. A suavidade no movimento permite que ela tenha mais tempo para entender e se preparar para o que está havendo, principalmente se for inexperiente. Considere que sentar atrás sem ter o que fazer é mais cansativo que pilotar, por isso, planeje paradas mais freqüentes e com maior duração.
O maior peso na parte traseira também muda o centro de gravidade, deslocando-o para trás. Isso faz com que a operação no guidão também seja sensibilizada porque um menor peso incide sobre essa roda – a energia que dispensa ao guidão terá que ser ajustada. Se a moto permitir alguma regulagem na suspensão, deve-se considerar um endurecimento na suspensão traseira, que facilitará melhor equilíbrio do conjunto. Proceda sempre com regulagens mínimas, experimentando o resultado. O endurecimento excessivo compromete a pilotagem além de causar desconforto.
O resultado de suas ações bem direcionadas, certamente conquistará mais um fã para motociclismo! Divirtam-se!

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