O caos urbano e a alta taxa de
mortalidade no trânsito provocam uma reflexão
A cada dia que passa fica mais evidente
a necessidade de reformulação do sistema que prepara o motociclista brasileiro.
Obviamente, não é só o motociclista que precisa ser preparado, mas o motorista
e a população, como um todo – afinal de contas, todos nós interagimos com o
trânsito de alguma forma. A nossa legislação prevê que essa educação de base
deve começar nas escolas, mas são raríssimas as entidades que oferecem esse
conhecimento à seus alunos.
Para o motociclista, a formação é ainda
mais crítica, porque conduz um veículo dependente de equilíbrio, e de maneira
totalmente exposta. Devido as características operacionais de uma moto, é
necessário que aquele que pretende usá-la se intere em profundidade com sua
operação, para ter o mínimo de chances de não se envolver em alguma forma de
incidente.
Não fosse suficiente a delicadeza da operacionalidade,
existe ainda o contexto social que agrega pressão e dificuldade ao motociclista
– principalmente em grandes centros urbanos. Com o crescimento da frota e o
acesso mais fácil a todo tipo de veículos devido a flexibilização de
financiamentos, as ruas acabam infestadas de novos motoristas e motociclistas,
em sua maioria completamente despreparados para exercer essa atividade,
misturando-se aos já calejados e viciados usuários que praticamente vivem uma
guerra campal em nossas vias, disputando cada centímetro de espaço, ou a
economia de minutos. Não é por acaso que os acidentes com veículos já são um
problema de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMG) coloca o Brasil
na lista dos dez países com a maior taxa de mortalidade no trânsito do mundo, e
sem dúvida alguma as motos são uma crescente parte desses números.
Em meio a esse contexto caótico procurei
saber como as autoridades de trânsito veem esse problema e o que está sendo
feito a respeito. No caso de São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET) promove através do Centro de Treinamento e Educação de Trânsito (CETET) cursos
gratuitos para motoristas e motociclistas visando o aperfeiçoamento do
condutor.
No caso do motociclista, o alvo
principal é o profissional que usa a moto para exercer atividade remunerada, mas
o treinamento pode ser feito por qualquer motociclista habilitado – bastando se
inscrever. O foco é obvio, uma vez que cerca de 70% das motos em circulação
diária na área metropolitana pertencem a essa classe de trabalhadores. O curso
de pilotagem segura – como é conhecido –
já existe há mais de dez anos, mas tomou forma mais definida a partir do
aumento de acidentes com esse tipo de veículo e a constatação do perfil de seu
usuário.
Sem entrar no mérito da escolha de temas
abordados ou com que profundidade o material é tratado, é importante notar que
existe ciência das deficiências no preparo de novos condutores e da necessidade
de se tomar ação para minimizar os efeitos refletidos no trânsito.
O curso que tem duração de 8 horas
teóricas e mais 8 horas práticas já atendeu pouco mais de 9500 interessados,
que em sua maioria é constituida por funcionários de empresas que utilizam a
moto para suas atividades diárias. As turmas de até 12 alunos são formadas duas
vezes por semana, e a que tive o prazer de observar, foi constituida por nove .
Quando questionei os alunos sobre a
validade do que estavam ali fazendo, todos cooncordaram ser um trabalho
importante, visando a segurança e cidadania, mas quando perguntados de quem
partiu a iniciativa para estarem lá, foram unânimes em indicar a empresa para
qual trabalham. Ou seja, nenhum deles estava lá porque sentia a necessidade de
aperfeiçoamento, mas porque a empresa assim exigiu. Isso demonstra o grau de
confiança que esses motociclistas depositam em suas habilidades, bem como qual
a visão que a empresa contratante têm das mesmas.
Os pontos de vista distintos nos remetem
ao pensamento que devemos sim ter coletivamente a responsabilidade de dividir o
conhecimento acumulado com aqueles que nem ciência tem de sua própria limitação,
e mais além, devemos incentivar a busca da informação apropriada, àqueles que
devido à falta de recursos, não tomam ação alguma. É bom não esquecer que o
comportamento negativo de quem não recebeu educação adequada reflete em todos
nós, motociclistas e motoristas, sejam profissionais ou meros usuários.
O problema que o motociclista vive hoje
no trânsito através da discriminação, hostilidade e falta de respeito não
começou da noite pro dia – foram anos e anos de forja pela falta de ação das
autoridades competentes ou então de ações equivocadas. A título de exemplo, um
equívoco enorme foi cometido com a extinção de múltiplas categorias para
pilotar motocicletas. Para efeito de preparo de um motociclista, o indivíduo
habilitado hoje para pilotar uma moto de 125 cc também está apto a pilotar uma
de 1800 cc – um total disparate. Do outro lado da moeda, o próprio motociclista
não se deu ao trabalho de se aperfeiçoar tecnicamente para elevar seus níveis
de segurança, confiando que isso não é um problema seu – afinal de contas é
"habilitado". Engano. Agora é um problema para todos nos
enfrentarmos, fazendo o que for possível para amenizar a convivência entre
motos e veículos bem maiores que ela. Já parou pra pensar em como você poderia
colaborar?
Serviço:
Interessados em obter informações ou
cursos devem entrar em contato direto com o CETET
Tel: (11)3871-8625
e-mail: dco2@cetsp.com.br
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