segunda-feira, 18 de abril de 2011

Educação de base


O caos urbano e a alta taxa de mortalidade no trânsito provocam uma reflexão

A cada dia que passa fica mais evidente a necessidade de reformulação do sistema que prepara o motociclista brasileiro. Obviamente, não é só o motociclista que precisa ser preparado, mas o motorista e a população, como um todo – afinal de contas, todos nós interagimos com o trânsito de alguma forma. A nossa legislação prevê que essa educação de base deve começar nas escolas, mas são raríssimas as entidades que oferecem esse conhecimento à seus alunos.

Para o motociclista, a formação é ainda mais crítica, porque conduz um veículo dependente de equilíbrio, e de maneira totalmente exposta. Devido as características operacionais de uma moto, é necessário que aquele que pretende usá-la se intere em profundidade com sua operação, para ter o mínimo de chances de não se envolver em alguma forma de incidente.

Não fosse suficiente a delicadeza da operacionalidade, existe ainda o contexto social que agrega pressão e dificuldade ao motociclista – principalmente em grandes centros urbanos. Com o crescimento da frota e o acesso mais fácil a todo tipo de veículos devido a flexibilização de financiamentos, as ruas acabam infestadas de novos motoristas e motociclistas, em sua maioria completamente despreparados para exercer essa atividade, misturando-se aos já calejados e viciados usuários que praticamente vivem uma guerra campal em nossas vias, disputando cada centímetro de espaço, ou a economia de minutos. Não é por acaso que os acidentes com veículos já são um problema de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMG) coloca o Brasil na lista dos dez países com a maior taxa de mortalidade no trânsito do mundo, e sem dúvida alguma as motos são uma crescente parte desses números.

Em meio a esse contexto caótico procurei saber como as autoridades de trânsito veem esse problema e o que está sendo feito a respeito. No caso de São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) promove através do Centro de Treinamento e Educação de Trânsito (CETET) cursos gratuitos para motoristas e motociclistas visando o aperfeiçoamento do condutor.

No caso do motociclista, o alvo principal é o profissional que usa a moto para exercer atividade remunerada, mas o treinamento pode ser feito por qualquer motociclista habilitado – bastando se inscrever. O foco é obvio, uma vez que cerca de 70% das motos em circulação diária na área metropolitana pertencem a essa classe de trabalhadores. O curso de pilotagem segura – como é conhecido –  já existe há mais de dez anos, mas tomou forma mais definida a partir do aumento de acidentes com esse tipo de veículo e a constatação do perfil de seu usuário.

Sem entrar no mérito da escolha de temas abordados ou com que profundidade o material é tratado, é importante notar que existe ciência das deficiências no preparo de novos condutores e da necessidade de se tomar ação para minimizar os efeitos refletidos no trânsito.

O curso que tem duração de 8 horas teóricas e mais 8 horas práticas já atendeu pouco mais de 9500 interessados, que em sua maioria é constituida por funcionários de empresas que utilizam a moto para suas atividades diárias. As turmas de até 12 alunos são formadas duas vezes por semana, e a que tive o prazer de observar, foi constituida por nove .

Quando questionei os alunos sobre a validade do que estavam ali fazendo, todos cooncordaram ser um trabalho importante, visando a segurança e cidadania, mas quando perguntados de quem partiu a iniciativa para estarem lá, foram unânimes em indicar a empresa para qual trabalham. Ou seja, nenhum deles estava lá porque sentia a necessidade de aperfeiçoamento, mas porque a empresa assim exigiu. Isso demonstra o grau de confiança que esses motociclistas depositam em suas habilidades, bem como qual a visão que a empresa contratante têm das mesmas.

Os pontos de vista distintos nos remetem ao pensamento que devemos sim ter coletivamente a responsabilidade de dividir o conhecimento acumulado com aqueles que nem ciência tem de sua própria limitação, e mais além, devemos incentivar a busca da informação apropriada, àqueles que devido à falta de recursos, não tomam ação alguma. É bom não esquecer que o comportamento negativo de quem não recebeu educação adequada reflete em todos nós, motociclistas e motoristas, sejam profissionais ou meros usuários.

O problema que o motociclista vive hoje no trânsito através da discriminação, hostilidade e falta de respeito não começou da noite pro dia – foram anos e anos de forja pela falta de ação das autoridades competentes ou então de ações equivocadas. A título de exemplo, um equívoco enorme foi cometido com a extinção de múltiplas categorias para pilotar motocicletas. Para efeito de preparo de um motociclista, o indivíduo habilitado hoje para pilotar uma moto de 125 cc também está apto a pilotar uma de 1800 cc – um total disparate. Do outro lado da moeda, o próprio motociclista não se deu ao trabalho de se aperfeiçoar tecnicamente para elevar seus níveis de segurança, confiando que isso não é um problema seu – afinal de contas é "habilitado". Engano. Agora é um problema para todos nos enfrentarmos, fazendo o que for possível para amenizar a convivência entre motos e veículos bem maiores que ela. Já parou pra pensar em como você poderia colaborar?
  

Serviço:
Interessados em obter informações ou cursos devem entrar em contato direto com o CETET

Tel: (11)3871-8625
e-mail: dco2@cetsp.com.br

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