segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

VISÃO: Tá olhando o que?


Saiba como o treinamento da visão pode lhe ajudar a ser mais eficiente na pilotagem.

O principal sentido de nosso corpo durante a pilotagem é sem dúvida alguma a visão. É através dela que colhemos todas as informações ao nosso redor e iniciamos o processo decisório de como iremos interagir com o meio.
A maioria não se dá conta da importância de como executamos esse processo – para onde olhamos, o que exatamente vemos ou não vemos.

Amplitude visual
Primeiramente é necessário compreender que nossa visão é composta de visão focal e visão periférica. Chamamos de focal, aquela área para onde olhamos diretamente à frente, e enxergamos com exatidão os contornos de maneira totalmente nítida. Mas essa é uma região muito pequena – pode ser representada pelo tamanho de uma moeda à distância de um braço. Na medida em que nos afastamos dessa região de foco, tudo parece ficar desfocado, embaçado, e quanto maior a distância do ponto focal, maior o desfoque. Tendo em mente que temos aproximadamente 170 ° de visão horizontal e 140° de visão vertical à disposição, a área focal é muito pequena, obrigando nossos olhos a se movimentarem com velocidade em todas as direções, buscando mapear o ambiente para nosso cérebro. Uma vez mapeado, o ambiente é monitorado através da visão periférica, dando-nos a noção espacial de onde cada coisa se encontra.
Durante a pilotagem, nossa visão tem o papel de encontrar o caminho por onde devemos passar, além de identificar empecilhos que constituam alguma forma de obstáculo ou perigo. Por estarmos em movimento, em uma velocidade superior a que nos é natural – a do andar – sofremos a ação da velocidade principalmente de duas formas: queda e estreitamento da visão.

Visão curta
A "queda da visão" acontece durante o movimento à frente, porque tendemos a olhar objetos que identificamos em nosso caminho, acompanhando durante algum tempo seu deslocamento em nossa direção. Ao elevarmos a visão novamente para o horizonte, já o fazemos a uma menor distância, repetindo o processo com outros objetos. Esse vai e vem dos olhos, faz com que a média de nossa atenção fique concentrada muito próxima da moto, tendo dessa forma, pouco tempo para reagir às eventualidades. Essa tendência deve ser combatida com muita concentração, policiando-se sempre em manter a visão focal lançada à maior distância possível, na direção pretendida. Como dito, seu papel é de identificar possíveis obstáculos e principalmente buscar por soluções, permitindo que o obstáculo seja monitorado pela visão periférica. Devido a nossa psique, também tendemos a concentrar excessiva atenção ao objeto de risco, o que freqüentemente faz com que nos movamos em sua direção. É necessário encontrar imediatamente uma solução, e focar nela – enquanto o monitoramento do obstáculo fica a cargo da visão periférica.

Visão em túnel
Já o "estreitamento da visão" normalmente acontece pela excessiva atenção focal que se dá na área por aonde irá se passar. Os olhos buscam mapear com tal intensidade diferentes pontos em torno da área central, que começa a existir uma perda de noção lateral. Esse "afunilamento" normalmente está associado também à tensão, principalmente gerada pela falta de experiência. É mais comum nos primeiros estágios do aprendizado da pilotagem, mas também é sentida por motociclistas experientes em longos percursos de pouca atividade – como intermináveis retas. Uma boa maneira de combater é variar a posição do olhar, dirigindo-o a paisagem por um breve período. Manter-se ocupado checando com periodicidade os espelhos e painel da moto, também ajuda a combater o fenômeno, além de elevar a consciência situacional.

Trabalho mental
Ambos os fenômenos devem ser trabalhados pelo piloto aumentando a utilização da visão periférica. É um simples exercício mental, que pode ser feito em qualquer ambiente, algumas vezes durante o dia. Consiste em focar um objeto a sua frente, e sem retirar a atenção dele, fazer um mapeamento de tudo que se consegue captar com a visão periférica, fazendo um registro mental da área em seu redor. É vital que a visão focal seja mantida centrada no objeto especificado, não permitindo que se desloque para outros pontos. Tendo registrado o espaço disponível que tem em torno de si, desloque-se em diferentes direções ainda sem tirar os olhos do objeto escolhido. A diferença de perspectiva ajuda a firmar melhor seu em torno e força a percepção periférica.
Como a maioria dos motociclistas também é motorista, proponho um exercício que ilustra o grau de dificuldade que todos temos em aceitar a informação vinda dessa área "nebulosa" da visão periférica. Quando estiver preso naquele trânsito que "anda-e-para", principalmente encontrado nas grandes metrópoles, tente focar o veículo atrás de você observando-o através do espelho central. Devido à posição de sua cabeça, a visão periférica deve ser capaz de ver o veículo à sua frente. Sem retirar a atenção e visão focal do que está atrás de você, tente notar o afastamento do que vai à frente, promova o movimento necessário para acompanhá-lo, e após notar sua parada, execute também a parada em tempo e distância adequados. É muito provável que não consiga de imediato – a tendência da maioria é deslocar o olhar para o veículo da frente pelo menos por um instante para se certificar da distância e velocidade. Esse exercício ilustra o quanto somos dependentes da visão focal, e a margem que temos para explorar melhor a utilização da periférica.

À frente das situações
O treinamento da visão periférica é fundamental para a pilotagem, pois libera a visão focal para buscar obstáculos e soluções, com o firme propósito de colocar-nos à frente das situações em tempo hábil. Quanto mais tempo temos para avaliar uma situação, mais elaborada e concreta é a ação executada. Como visto em artigos anteriores, a "regra dos dois segundos" aplica-se com propriedade nesse conceito de "visão proativa", delineando qual o mínimo que buscamos em termos de visão, para promover a adequação da velocidade. Em outras palavras, devemos ter visão de todos os possíveis obstáculos estando no mínimo há dois segundos deles, estabelecendo assim uma velocidade pertinente à nossa capacidade reacional. Em ambientes com agentes complicadores como neblina ou chuva, esse tempo mínimo deve dobrar, levando em consideração as características do pavimento.
Treine bastante a qualidade de sua visão, e logo perceberá como a pilotagem ficará mais "fluida", gerando conforto e segurança.

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