sexta-feira, 20 de maio de 2011

Exercitando a frenagem


Saber usar corretamente os freios pode lhe ajudar em situações difíceis

Há exatos três anos, dei início a essa série de matérias relativas a segurança motociclística. A parceria com a revista Moto Adventure permitiu que assuntos da mais alta importância para o motociclista fossem abordados de maneira franca, aberta e participativa, contando sempre com idéias, perguntas e sugestões de nossos leitores e colaboradores. Agradeço, de coração, à todos que de alguma forma contribuiram com esse trabalho!

A primeira dessas matérias tratava de um assunto que sempre deve ser relembrado, pois faz parte de nossa rotina na pilotagem – o uso dos freios. Por ser de vital importância, abordo-o novamente sob uma ótica ligeiramente diferente da que fiz há três anos, dando maior ênfase à forma de execução e como treiná-la.

Componentes

São quatro os componentes que promovem a desaceleração de uma moto:

  1. Arrasto aerodinâmico
  2. Freio motor
  3. Freio traseiro
  4. Freio dianteiro
Na matéria inicial, foi tratada a estratégia de uso desses recursos e explicada sua ordem de grandeza por eficiência – agora abordo um pouco mais sobre seu uso operacional e a metodologia para seu treino.

Frenagem emergencial

A forma como decidimos operar cada um dos comandos de frenagem de uma moto é crucial para a segurança, pois além de comprometer diretamente a distância até a parada, compromete a estabilidade que a moto terá durante o processo.

Usarei como referência a frenagem emergencial – a mais crítica – por envolver falta de tempo, distância e impacto psicológico. Quando nos deparamos com essa situação, algo de errado já aconteceu – possivelmente, mais de uma coisa. É hora de manter o sangue frio e exercer o máximo de sua habilidade para não transformar uma situação difícil em catastrófica. Para que essa compostura possa ocorrer, é necessário o entendimento de que a prática é fundamental para a eficiência – e tratarei disso mais adiante.

Manuseio

Tanto o freio traseiro quanto o dianteiro possuem dois estágios em seu acionamento, uma vez que ambos os comandos possuem uma folga entre a posição de descanso do comando e o acionamento dos freios propriamente dito. Em outras palavras, a frenagem não começa assim que o manete do freio dianteiro começa a ser manuseado, mas um pouco depois em seu curso, onde ele começa a oferecer maior resistência. Com o pedal do freio traseiro acontece da mesma forma.

Torna-se então importante notar, que é relevante como manuseamos os comandos durante esses estágios, pois tratá-los como sendo ação única, traduz-se em rápida perda de controle da roda, por travamento. Chamamos isso no motociclismo de "alicatar" o freio, devido a semelhança no manuseio da ferramenta. Quem já passou pela experiência, pode relatar a sensação desagradável da eminência de uma queda, por ter travado prematuramente a roda dianteira – simplesmente, perdeu-se a direção da moto.

Mesmo sendo o tempo crucial, o piloto deve cumprir essa folga de comando de maneira suave, para que o contato inicial também o seja. Através desse contato inicial com os freios suavizado, evita-se o travamento das rodas e os freios podem exercer a função de desacelerar o movimento, por promoverem maior atrito dos pneus com o solo com o qual estão interagindo. Um pneu que esteja derrapando, não possui a mesma capacidade de frenagem de um pneu que esteja rodando sobre o solo em processo de desaceleração. Assim sendo, jamais a distância de frenagem de uma roda travada, será inferior a de uma que tenha sido trabalhada em movimento de rotação sobre o solo, e esse é o princípio que rege a construção de freios com ABS – sistema que evita esse bloquieo das rodas.

Assim que o contato com o freio é atingido, existe uma mudança no manuseio, passando a ser firme, enérgico e ao mesmo tempo, progressivo. O quanto de energia aplicada depende de uma série de fatores, como velocidade, distância para frenagem, peso da moto, capacidade dos freios, aderência do solo, entre outros. Como pode ver, muitos são os elementos que devem ser julgados pelo piloto de uma moto ao executar uma frenagem emergencial.

A pressão sobre o comando deve crescer, objetivando identificar o limite de aderência de um dado pneu sobre a superfície em questão. Normalmente, os pneus oferecem comportamento bastante comum à diferentes tipos de motos – quando no limiar, tendem a emitir um som estridente no asfalto e abafado  em terra ou superfícies lisas. Normalmente a sensação que acompanha é de um "quicar" da roda por sobre o pavimento, alertando o piloto de que está prestes a derrapar. A excessão (à regra) são as supefícies extremamente lisas, como gelo, ou contaminadas por fluídos, como óleo ou diesel – nessas quase não existe alerta para o travamento.

Como e porque proceder

Por serem tantas as situações, e tão diferentes umas das outras, é necessário que o motociclista experimente diferentes comportamentos em diversas instâncias.

A melhor técnica é utilizar-se do freio traseiro inicialmente, procurando atingir o ponto de travamento daquela roda. A perda de atrito na roda traseira não compromete significativamente o equilíbrio ou dirigibildade da moto, uma vez que não atinge a roda que lhe dá direção e controle sobre a inclinação. Uma vez experimentado, pode-se passar ao freio dianteiro, lembrando-se que esse sim, é crítico. Seu manuseio equivocado ou exagerado, quase sempre resulta em queda.

Se não constituir experiência de comportamento que sua moto tem em diferentes pavimentos e situações, não estará apto a exercer o melhor de si em uma situação real de emergência. Abro um parênteses aqui, para dizer que a aviação tem os mais baixos indices de acidentes, porque as tripulações são exaustivamente treinadas na questão emergencial – preparando devidamente os envolvidos, até sob ótica psicológica, para uma eventual realidade. Seguindo o mesmo princípio, nós motociclistas, deveriamos adotar essa política de treino, para garantir o conhecimento necessário e aptidão prática – a nossa realidade prevê que, muito provavelmente, teremos de utilizar esse conhecimento em alguma instância.

Escolhendo lugares

Para que possa exercitar suas frenagens em diferentes ambientes é preciso que esteja em sintonia com o meio, e produza apenas o necessário, sem que isso tenha qualquer impacto para os demais usuários da via em que opera. Para tanto, regras são fundamentais:

  1. Escolha diferentes trechos em linha reta – experimente o comportamento em pavimento plano, bem como subidas e descidas. Por uma questão de segurança, evite fazê-lo em curva. Os riscos nessa situação são maiores, mas ainda assim, educativos.
  2. Certifique-se de não comprometer a segurança de qualquer outra pessoa, exercitando-se quando não houver ninguém por perto. A manobra de frenagem pode ser mal interpretada, tanto por usuários quanto por autoridades. Tenha em mente que uma brusca mudança de velocidade presenciada por alguém, pode assustar e implicar em atitude, que pode comprometer uma pessoa que não tenha ciência de sua intenção.
  3. Experimente os mesmos lugares em diferentes condições – lembre-se que pneus, pastilhas, discos ou lonas sofrem desgaste e acarretam comportamento diferenciado ao longo do tempo. Você deve ter a oportunidade de sentir essas nuances para que possa obter o máximo de desempenho em uma frenagem tida como emergencial. Da mesma forma, note que pneus frios e quentes também tem comportamentos distintos, perfazendo distâncias singulares em frenagem.
  4. Temperatura e umidade do pavimento também afetam as distâncias de frenagem assim como a velocidade, portanto, trabalhe esses aspectos também, para se educar de que forma afetam o desempenho dos freios de sua moto.
ABS (Anti-lock Braking System)

O sistema anti-travamento das rodas que cada vez mais está presente em nossos veículos, também pode ser encontrado em uma boa gama de motocicletas. Apesar do sistema ser desenhado para não deixar as rodas travarem, independente da pressão que se exerça sobre seu comando operacional, é preciso que o usuário se familiarize com essa característica  e se eduque quanto ao comportamento que a moto terá quando o sistema estiver sob uso. Com o sistema ativo, o limite de aderência dos pneus não pode ser atingido, e assim, qualquer que seja a pressão, o travamento não ocorrerá. Mas mesmo assim, usar a técnica de manuseio dos freios para motos sem esse dispositivo, pode gerar mais confiança ao usuário e retardar o acionamento do ABS. O mesmo vale para motos que ainda contam com combinação de freio dianteiro e traseiro em um único comando – testar e  experimentar são as palavras de ordem.

Conclusão

Uma frenagem bem feita pode ser a diferença entre colidir e não colidir contra um obstáculo – é de suma importância seu treino exaustivo. Procure praticar pelo menos uma frenagem desse tipo a cada saída que der com a moto. Se não for viável, programe-se para fazê-lo com regularidade. Além de deixar os reflexos polidos, a mente aguçada e o equipamento aquecido para um acontecimento real, vai lhe educar quanto a diferentes pavimentos.

Não se esqueça de sempre preservar a vida, colocando a segurança em primeiro lugar. Nunca ofereça risco à outros, e quando executar o procedimento, esteja sempre totalmente equipado, portando capacete, jaqueta, luvas e calçados próprios para o motociclismo.

Bom treino!


4 comentários:

  1. Nenad como sempre quero te dar os parabéns. Vi que vc participou da copa ninja, minha dúvida é:

    Essa motinho realmente é boa?
    Da para brincar muito numa serra?

    Obrigado e forte abraço!!!

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  2. Tudo depende de como quer brincar... rsrs
    A Kawa é no mínimo uma proposta decente. Estável, bom motor e freios e excelente ciclística. Se dá pra brincar? Eu me diverti com ela na copa ninja e veja que andei com uma totalmente original.
    Mas se quer brincar de verdade, esquece a serra e vem pra pista! O divertimento é maior e além disso, bem mais seguro. Abs! (seja lá quem vc for! rsrsrs)

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  3. Como sempre, postando um ótimo comentário. Vi que vc participou com ela original e na chuva, chegando em segundo. Parabéns.
    Isso que estou fazendo, vendendo uma 600 e dando um tempo da rua para realizar esse sonho!!!

    Forte abraço.

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  4. Pra quem anda de 600 vai ficar um pouco entediado na pista com uma 250...dá vontade de descer e empurrar...rsrs Mas ainda assim, é divertimento puro!
    Uma coisa é certa:
    Interlagos 1 vez na semana = semana inteira de sorriso!
    Divirta-se!

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