terça-feira, 30 de março de 2010

Nas alturas

Dicas para motociclistas enfrentarem estradas em regiões elevadas

Já há algum tempo que viajar de moto, para nós brasileiros, inclui também uma esticadinha pela América Latina. Nosso território, apesar de rara beleza, ficou pequeno para as mais variadas tribos de motociclistas, e seu imenso esprito de aventura. Dito isto, vamos falar um pouco sobre como é trafegar num relevo muito diferente do que encontramos aqui no Brasil – vamos dar dicas sobre como evitar problemas com seu corpo e seu equipamento em grandes altitudes.

Diferenças significativas

A altitude sempre deixou o brasileiro fascinado, pois nosso relevo é antigo e desgastado, deixando nossas maiores altitudes baixas – se comparadas aos dobramentos modernos como a Cordilheira dos Andes.

A cidade mais alta do Brasil – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – é Campos do Jordão (SP), encravada na serra da Mantiqueira com 1.628 metros de altitude média. Nessas altitudes, praticamente não sofremos alterações em nosso corpo ou algo perceptível na moto, portanto só mesmo rodando em terras andinas (quando na América do Sul) é que temos a chance de notar diferenças, nem sempre agradáveis. A maioria das passagens fronteiriças entre Argentina e Chile, por exemplo, tem mais de 3.000m: Paso de Jama com 4.170m, Paso Los Libertadores com 3.500m, etc. Para garantir uma ótima viagem, é preciso ficar atento a como essas altitudes elevadas afetam nosso corpo e também como afetam a máquina.

O homem

Quando subimos para grandes altitudes, nosso corpo sofre com a mudança de pressão atmosférica e principalmente, com a mudança de concentração de oxigênio no ar. O simples ato de descer da moto e caminhar alguns passos para fotografias já nos deixa cansados devido ao ar rarefeito – nossos pulmões precisam trabalhar muito mais. Este fenômeno, conhecido por nós brasileiros, como "mal da montanha" ou "mal das alturas", é chamado de "Soroche" pelos habitantes da cordilheira dos Andes. Trata-se de uma enfermidade que é causada principalmente por uma má aclimatação em montanhas elevadas. O "mal das alturas" pode afetar as pessoas a partir dos 2.500 metros de altitude aproximadamente. Em pessoas mais sensíveis, sintomas podem aparecer até mesmo em altitudes mais baixas. A recomendação mais usual e efetiva é: suba de maneira progressiva e lenta, afim de que seu corpo se aclimate de forma gradual às mudanças. Pilote com segurança, aprecie a paisagem e se mantenha bem hidratado.

Os sintomas mais comuns do mal de altitude são dor de cabeça, náuseas, visão turva, cansaço, tonturas e insônia. Tenha cuidado na pilotagem, pois
pode haver lentidão nas reações, dificuldade de concentração, e até desorientação. Os sintomas quase sempre regridem naturalmente em até 48 horas do início da manifestação, mas é preciso estar alerta, pois se não houver uma melhora geral, pode significar uma evolução do quadro para estágios mais graves – não deixe de consultar um médico se o mal perdurar ou for severo. Muitos hotéis na região oferecem balões de oxigênio que ajudam no desconforto – verifique a disponibilidade.

Algumas dicas importantes para prevenção desses sintomas são:

1. Manter uma boa hidratação - beber de 3 a 4 litros de líquidos por dia e não consumir bebidas alcoólicas;

2. Subir gradativamente, com uma velocidade moderada – aproveite o visual e tire muitas fotos enquanto descansa um pouco;

3. Consumir alimentos ricos em calorias, como açucares e carboidratos.

4. Manter-se aquecido – é imprescindível estar bem equipado, pois o frio intensifica os males de altitude;

5. Limite seus movimentos – ao atingir o topo, não exagere na movimentação, pois seu organismo não está acostumado a trabalhar com pouco oxigênio e poderá acontecer até uma lipotimia (baixa oxigenação cerebral causando desmaio).

Por vezes, a solução é descer novamente a altitudes mais baixas. O mal da altitude atinge mais de 50% das pessoas que chegam aos 3.500 metros de altura e quase 100% das que atingem os 5.000 rapidamente, portanto, não tenha pressa – fazer uma boa aclimatação é fundamental.

Fique atento aos mesmos problemas quando iniciar sua descida para altitudes com as quais esteja acostumado – as mesmas dicas se aplicam também para a descida. Conforme o biótipo de cada um pode haver mais efeitos colaterais ao descer do que ao subir – mantenha-se atento.

A máquina

Independente da cilindrada da moto ou de seu sistema de alimentação, a altitude elevada pode afetar seu rendimento devido ao ar mais rarefeito. Em altitudes acima de 2500 metros já se começa a sentir os efeitos de menor concentração de oxigênio no ar. Como sabido, o motor à explosão usa a mistura de ar e combustível para produzir a queima que fornece a energia para sua propulsão – se a quantidade de oxigênio disponível é menor, haverá uma perda na capacidade de produção.

Motos de menor cilindrada e menor potência acabam sendo mais afetadas justamente porque sua capacidade total de gerar energia é pequena, sendo qualquer diferença – por menor que seja – notada pelo motociclista. Já nas motos acima de 600cc, essa diferença de rendimento é menos sentida.

O sistema de alimentação também contribui para um bom rendimento em altitude, sendo a injeção eletrônica superior à tradicional carburação por se auto-regular conforme a necessidade de maior entrada de ar para compensar a pobreza em oxigênio. Nos sistemas de alimentação por carburador, efeitos como perda de marcha-lenta, maior tendência ao afogamento e maior consumo são constatados com certa regularidade. Proceda com regulagens apenas e tão somente se tiver plena certeza do que fazer. Informe-se com seu mecânico de confiança como proceder adequadamente, antes da viagem. Se não souber o que fazer ou não tiver o ferramental apropriado, opte em usar os serviços disponíveis no local que esteja visitando, tendo em mente que quando proceder com a descida, nova regulagem se fará necessária. Evite "quebra-galhos" como a retirada do elemento filtrante para garantir maior acesso de ar – a falta do elemento pode acarretar em particulas danosas ao motor serem ingeridas pelo sistema podendo danificá-lo seriamente.

Embora com menor intensidade, motos com injeção eletrônica também apresentam pequena perda de potência. Por mais que o sistema compense com regulagens automáticas, aquele ar é pobre em oxigênio, elemento fundamental no processo de queima do combustível. Tenha em mente que sua moto também poderá sofrer uma espécie de "mal de altitude" e irá requerer que a pilote de maneira a compensar a pequena perda de potência com uma pilotagem melhor planejada.

Divirta-se

Prepare seu equipamento para o frio – a mudança de altitude normalmente vem acompanhada de uma queda acentuada na temperatura. Estima-se que para cada 1.000m haja uma diferença de 8°C. Esteja atento também aos efeitos do sol em sua pele bem como ao excesso de luz refletida em superfícies como neve e gelo. Um bom protetor solar e óculos de sol de qualidade garantem o conforto. Todas as dicas que demos aqui não dispensam uma opinião especializada – consulte seu médico e seu mecânico de confiança quando pretender viajar para regiões de grande altitude. Com esses conselhos, esperamos tornar sua viagem mais segura e divertida.

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