sexta-feira, 26 de junho de 2009

A importância da instrução


Uma breve análise do sistema que qualifica o condutor de um veículo


Aprender ou melhorar a maneira com que um indivíduo conduz seu veiculo, pode ser traduzido em segurança para si e para os demais que dividem o mesmo espaço. Digo pode, porque a mesma informação também é utilizada para a melhoria do desempenho, e dependendo do meio em que se promove a pilotagem, pode ser contraproducente.

É vital entender que as duas formas de pilotagem – segura e de desempenho – se encontram em lados opostos da mesma moeda. É impossível promover a pilotagem segura sem sacrificar o desempenho, assim como não é possível imaginar a obtenção de alto desempenho sem algum detrimento da segurança. A partir desse entendimento, vislumbra-se que a eficiência se encontra exatamente entre esses dois aspectos da pilotagem, apontando inclusive para a interdependência entre as suas formas antagônicas.

Forma-se aí um paradigma, porque a busca por segurança envolve a exploração dos limites de desempenho de um veículo, para entendimento de suas capacidades. Sem esse entendimento, não é possível produzir uma ação eficiente e segura nos controles – principalmente em situação emergencial – por pura falta de conhecimento. Uma vez adquiridos os parâmetros, aplicam-se as normas de condução segura, privilegiando o convívio com outros veículos e pessoas, objetivando uma relação de cordialidade, respeito e eficiência no deslocamento.

Esse trabalho de instrução deveria ser aplicado pelo estado, uma vez que é ele o certificador de capacitação da direção veicular, através da CNH (Carteira de habilitação). Esse papel, no entanto, é outorgado em lei às auto-escolas, a quem compete preparar os futuros motoristas e motociclistas. Infelizmente, os valores se encontram deturpados, e o que as auto-escolas oferecem como treinamento – invés de realmente instruir um indivíduo para melhor utilizar seu veículo – tem como objetivo principal, passar pelo ridículo exame imposto pelo estado. Atualmente, todo o percurso do exame de moto é executado em primeira marcha, sendo o candidato que mudar para a segunda, eliminado. Pior ainda é a inexistente demonstração de aptidão no uso dos freios – procedimento crítico na condução de qualquer veículo, o que dizer de um dependente de equilíbrio, como a moto. Ora, se a exigência para demonstração de habilidade é ínfima, obviamente o preparo para cumprir tal exigência também será.

Estima-se que cerca de 40.000 vidas são perdidas no trânsito brasileiro a cada ano, e há quem acredite que esse número seja bastante superior. Nem mesmo uma estatística decente nós temos. Organizações internacionais classificam o Brasil em 5º lugar no ranking de maior quantidade de mortes no trânsito, tornando-se evidente que já é há muito tempo um problema de saúde pública. Por alguma razão, provavelmente escusa, esses números não são amplamente divulgados pela mídia e a maioria das pessoas acaba aceitando essas perdas como tragédias da vida moderna.

Me chamem de inconformista, mas não consigo aceitar essa situação como um "fato da vida", principalmente porque é possível diminuir sensivelmente essas perdas com uma educação mais técnica e menos política de quem opera um veículo – seja de duas, quatro ou mais rodas.

No que diz respeito às motos, essa imensa lacuna existente entre a realidade do trânsito e o treinamento oferecido pelas entidades oficiais, tem sido preenchida por profissionais que em sua maioria oferecem treinamento bem mais completo e condizente com a realidade. Infelizmente, como em qualquer setor comercial, oportunistas encontram brechas e se instalam deturpando valores e ideais. Cabe-lhe, caro leitor, apurar quem oferece real qualidade no treinamento, e separar daqueles que vendem apenas uma ilusão ou glamour.

Naturalmente, esse texto poderia ser classificado como propagandista, uma vez que pessoalmente ministro um curso de pilotagem para motociclistas – mas pergunto: e por que não divulgar? Pelo menos assim terá certeza de que esse tipo de serviço existe, e que você não está totalmente abandonado à própria sorte. Nesse mar de pessoas e corporações, alguns poucos se preocupam com a qualidade de vida que deixarão para os seus e para a sociedade, enquanto a maioria só está interessada em quanto dinheiro você tem no bolso. Afinal de contas, isso é um negócio, não é? Em minha opinião, não – eu e meus colegas somos responsáveis por aprimorar motociclistas que sentem não estar preparados para conduzirem seus "brinquedos", e essa tarefa tem que ser exercida com o máximo de foco e atenção. Vidas literalmente dependem disso.

Com o avanço da tecnologia, a cada dia surgem motos mais potentes e delicadas de se operar. Além disso, empresários inescrupulosos inundam o mercado com produtos de qualidade duvidosa, acenando para o consumidor com promoções, prestações baixíssimas e toda sorte de "vantagens" para vender seus produtos, mas sem se preocupar em preparar esses consumidores para operar seus veículos. Obviamente, isso não é um problema deles. Será mesmo?

Caro companheiro motociclista, finalizo com a veemente recomendação para que se instrua colhendo todo tipo de informação que puder ter acesso – faça uma triagem, adapte à sua necessidade e desenvolva a experiência gradualmente – mas faça algo a respeito. Não permita que sua vida se transforme em mera estatística por banalizar um processo complexo, como é a pilotagem motociclística.

3 comentários:

  1. Infelizmente, tenho notado que quando saímos as ruas, estamos nos degladiando uns com os outros e não apenas nos locomovendo de um lugar a outro!
    Eu penso que muito iria mudar se os condutores de veículos adotassem a "cordialidade", dita por voce a pouco!
    Todos nós seriamos benficiados, e não só no transito, mas também no íntimo, nos sentindo mais civilizados, dando melhores exemplos aos nossos filhos!
    Eu tenho procurado dirigir assim. Eu sei que poucos pensam dessa maneira, mas acho que é de extrema relevância que hajam propagadores de "boas sementes" e formadores de opinião!

    E, Nenad! Que abençoado seriamos nós se tivessemos muitos e muitos mais propagandistas bem intencionados e sérios como voce! E sem deixar de reconhecer o seu trabalho abnegado em prol da segurança, até mesmo dividindo seu valioso conhecimento de maneira simples e gratuita, como aqui!

    Parabéns (mais uma vez) e um abraço!

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  2. Quero te parabenizar por essa magnífica matéria da tua coluna na Moto Adventure, gostei muito dos "toques" que você deu para os que querem se aventurar no mundo motociclístico terem em mente que precisam saber onde estão "pisando", mas principalmente adorei os questionamentos que você propôs.
    A parte que escreve sobre o exame da habilitação da motos foi ótima, esse exame é realmente uma coisa no mínimo ridícula, em vez de habilitar motociclistas, enchem as ruas de "estatísticas" (sabe quando você vê "aquele" cara fazendo altas cagadas pelas ruas? é um motociclísta? não... é só uma estatística)
    Foi muito legal por parte da revista permitir que todo esse questionamento fosse publicado, coisa que é difícil de a gente ler nas revistas do gênero e me lembro de nós termos conversado exatamente sobre isso em Ilhabela.
    No final você "matou a pau" questionando a qualidade duvidosa das motos ques estão aparecendo no mercado bem como as vantagens em adquiri-las.
    Parabéns meu amigo, continue com o seu brilhante trabalho!

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  3. Obrigado Srs, é gratificante ver que a mensagem está sendo espalhada. Quem sabe conseguimos "contaminar" e sensibilizar mais e mais pessoas, e aos poucos revertemos o quadro? Pode até ser utópico, mas com certeza se ninguem se movimentar, não saimos do lugar.

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