segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Conquistando a confiança na aderência


Veja como identificar a capacidade de atrito que os pneus de sua moto oferecem


Uma das questões predominantes nos dez anos do curso de pilotagem que venho oferecendo está relacionada à capacidade de atrito que os pneus de uma moto têm, e por conseqüência sua capacidade de curva.

Independente do grau de experiência do motociclista, em algum momento ele se deparará com a situação onde terá que se adaptar a um novo conjunto de pneus – seja porque renovou o set ou porque mudou de marca. Portanto não é um tema exclusivo para quem está em sua fase inicial de aprendizagem motociclística. Em diferentes níveis, todos temos que nos adaptar a circunstâncias específicas de atrito, sabendo identificar até aonde podemos trabalhar a capacidade de aderência dos pneus. Outro aspecto relevante a considerar é que cada tipo de pavimento oferece resistência distinta em dado momento, exigindo uma constante adaptação por parte do motociclista, o tempo todo.

Características

Os pneus têm desenhos e formatos distintos para melhor se adaptar às características do veículo e do pavimento para qual esse foi idealizado.

Pneus com sulcos profundos e largos são feitos para terrenos macios, instáveis, com pouca resistência – dessa forma são mais facilmente encontrados em motos destinadas ao off-road (fora de estrada), ou ainda para motos do tipo "dual purpose", como as da categoria trail. Sua principal característica é a capacidade de vazão de seus sulcos, permitindo que através de sua deformação em contato com o solo solte todo tipo de material retido nos vãos, garantindo espaço para mais a cada giro da roda. Por terem pouca borracha em contato com o solo, em terreno firme como asfalto, tendem a não oferecer boa aderência, escorregando com certa facilidade. É importante o usuário desse tipo de pneu ficar atento às mudanças de pavimento, e diminuir drasticamente a velocidade e inclinação quando operar em terreno diferente ao proposto pelo estilo do pneu.

Na outra extremidade estão os pneus esportivos para velocidade, que tem como principal característica exatamente a falta de sulcos, ou de outra forma, sua pouca quantidade e profundidade. Esses pneus privilegiam o contato da borracha com o solo aumentando o atrito, mas prejudicando sua capacidade de vazão. Dessa forma, são particularmente perigosos em terrenos instáveis – fundamentalmente quando chove. Nessa circunstancia, o piloto de uma moto com esse tipo de pneu deve diminuir a velocidade e ficar atento ao volume de água com que esta interagindo. Quanto maior o volume, menor terá de ser a velocidade.

Já no intervalo desses tipos está concentrada a maioria dos pneus distribuídos em todos os outros tipos de motos. As características de uso da moto, como dito anteriormente, determinarão a forma de seu pneu.

Pneus novos

Todos os pneus quando fabricados recebem uma camada de cera protetora que tem como finalidade manter as características da borracha enquanto da armazenagem anterior a venda e instalação. Assim que o pneu é instalado no veículo, ele deve ser aquecido e desgastado para que então possa oferecer o máximo de aderência. Esse período entre a colocação e a obtenção do melhor desempenho é o mais crítico operacionalmente porque a cera deteriora o atrito profundamente. Quase a totalidade de acidentes envolvendo pneus recém-instalados está relacionada à falta de cuidado com a eliminação da cera protetora. O principal recurso para a eliminação é a elevação da temperatura por atrito com o solo – será diferente para diferentes tipos, mas pode-se dizer que a faixa vai de cerca de 30°C para pneus de motos até 150cc, à cerca de 70°C para motos esportivas de grande porte. Isso significa que rodar de maneira uniforme e constante por aproximadamente 50 a 100 km deve resolver o problema na maioria dos casos, mas recomendo enfaticamente que consulte seu revendedor quanto às recomendações sobre o seu modelo específico.

Nesse período deve se ter muita atenção à pilotagem, evitando qualquer manobra brusca, especialmente arrancadas, frenagens e curvas acentuadas. O ideal é buscar um ambiente como o da estrada para poder manter a elevação da temperatura pela constância do atrito. Em ambiente tipicamente urbano, o tempo necessário para eliminar a cera acaba na pratica sendo maior, porque há um aquecimento e esfriamento constantes.

A temperatura somada ao atrito com o solo será responsável pelo desgaste dessa camada protetora. Especialistas consultados são unanimes ao não recomendarem o uso de qualquer produto químico na remoção da cera, por poder danificar a borracha que compõe o composto.

Identificando limites

Via de regra, o projeto da maioria das motos levou em consideração sua capacidade de inclinação no momento de optar por um tipo de pneu que pode ser chamado de "original". Ao projetarem, os engenheiros se preocupam em oferecer atrito nos pneus mesmo quando a moto é utilizada em seu limite máximo de inclinação. Essa é a razão para que as pedaleiras, que são freqüentemente usadas para determinar esse ângulo máximo, sejam de alguma forma, retráteis, não oferecendo um contato rígido com o solo, que de outra forma poderia alavancar os pneus.

A maioria das motos pode ser levada a esse ângulo máximo, em condições de asfalto regular e limpo, sem o risco de perda de aderência, mas é imperativo notar que as circunstâncias momentâneas serão decisivas quanto a manutenção do atrito. É onde a experiência pessoal de cada um entra, "sentindo" o comportamento da moto em diferentes fases, interpretando suas reações e se adequando às suas necessidades de condução.

Infelizmente há coisas que não podem ser descritas, independente da capacidade de verbalização que se tenha. A experiência é fundamental para construir uma impressão que possa tranqüilizar o motociclista em fase de adaptação a um conjunto de pneus.

O ideal é experimentar o atrito em um ambiente controlado, onde em caso de queda, as conseqüências não sejam graves. Em pneus livres de cera protetora, deve-se exercitar a inclinação gradativamente aumentando o ângulo, sentindo a cada momento o comportamento que a moto apresenta, tentando fazer um registro mental da experiência para usar por comparação com outros pavimentos. Para tanto, é vital que os pneus tenham atingido a temperatura ideal de trabalho, pois quando frios não tem a mesma capacidade de aderência. Sempre que esfriarem, terão que ser re-aquecidos para obter bom desempenho, nunca devendo ser expostos a um regime regular estando fora da faixa térmica apropriada.

Quanto à identificação do atrito que cada pavimento apresenta, a técnica mais comum é o uso do freio traseiro para identificar o momento que a roda trava e passa a ter um deslizamento. A escolha do freio traseiro para a tarefa é proposital, uma vez que a roda traseira travada não implica em perda significativa de controle – o que poderia acontecer caso o freio dianteiro fosse usado para tal. Um trecho reto de pavimento deve ser procurado, iniciando gradual pressão no freio em linha reta até obter o travamento da roda. Assim que derrapar, o freio deve ter a pressão no pedal aliviada, mas não liberada de tudo, para não provocar uma instabilidade. Com isso é possível sentir como se comportará a roda dianteira no caso de uma frenagem emergencial, dando uma boa idéia também quanto ao atrito disponível em curva.

Lembre-se de constituir essa experiência sempre bem equipado, em ambiente apropriado e de forma gradativa, para qualquer moto que pilotar.

2 comentários:

  1. Nenad, ou quem souber, poderiam falar algo a respeito da aderência em estradas de terra (cascalho/rípio), e se o uso de pneus mais off em motos Big Trail (BMW GS1200), melhora muito.
    Abçs!
    Marcio - Campo Grande/MS

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  2. O uso de pneus mais "off" implica em trafegar em ambientes que também o sejam. Em asfalto normal, o desgaste será significativo.
    Em pavimentos como os que descreveu, o uso desses pneus melhora-sim, o desempenho, mas não creio que justifique pelo desgaste apresentado em outros ambientes. Eu só optaria por esses pneus na GS se o tempo de interação com o meio fosse superior a 70%. Do contrário, usaria os mistos mesmo. Abraço!

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