domingo, 23 de maio de 2010

Superando obstáculos

Como transpor pequenos obstáculos com segurança e eficiência

Quando andamos de moto, raramente pensamos nos obstáculos que enfrentaremos no nosso deslocamento, imaginando que aqueles que aparecerem poderão ser tratados de forma imediata, de acordo com sua complexidade. Isso é parcialmente verdadeiro, mas também é importante notar que se tivessemos imaginado alguns dos obstáculos com antecedência, teriamos mais tempo para analisar a melhor forma de lidar com eles, encontrando quase sempre, mais de uma solução para os problemas diários. A vantagem desse procedimento é óbvia – com mais opções, temos a oportunidade de escolhas mais qualitativas. O fato de já termos analisado uma situação mentalmente nos prontifica a executar a solução encontrada sem hesitação – normalmente associada a alguma forma de dúvida do que se está fazendo.

Buraqueira nossa de cada dia

O dia-a-dia de um motociclista envolve lidar com buracos, costelas de vaca, lombadas e depressões. Além desses, placas metálicas cobrindo obras, canaletas de escoamento de água e tantos outros. Chega a ser difícil priorizar sobre o que falar primeiro. Optei por generalizar um pouco o procedimento de como encarar esses percalços, porque via de regra, a grande maioria pode ser tratada da mesma forma, uma vez que está relacionada a física do movimento. Mas antes, devo tecer algumas considerações quanto a tipo de motos e como suas características favorecem ou dificultam essas ações.

Ergonomia em diferentes estilos

A forma como sentamos na moto difere entre categorias. As melhores motos para enfrentar toda sorte de obstáculos são as que oferecem uma posição de pilotagem onde o piloto senta- se de forma natural, com os pés nas pedaleiras alinhados com o eixo da coluna, permitindo que as articulações dos joelhos sejam utilizadas como uma segunda forma de amortecimento. O guidão alto proporciona uma coluna ereta, praticamente perpendicular a linha do solo. As motos que oferecem esse tipo de ergonomia são as do tipo "trail", algumas da linha "street", além das motos específicamente desenhadas para o "off-road". São os melhores estilos para essa tarefa. Em seguida vem as motos esportivas e por último as motos "custom". Essas últimas dificultam um bom posicionamento na moto por terem o apoio dos pés lançados à frente, impossibilitando o piloto de apoiar seu peso nos pés por falta de ângulo necessário, tendo que arcar com os impactos não absorvidos pelo conjunto de amortecimento, direto na base da coluna.

Equilíbrio é tudo

Antes de estudarmos a técnica para enfrentar um obstáculo, é preciso primeiramente notar que estrategicamente a primeira opção deve ser sempre de contornar a dificuldade, optando por um caminho livre. Enfrenta-se o obstáculo quando não há outra alternativa – é o caso de uma valeta ou lombada, por exemplo. Qualquer tipo de obstrução em sua trajetória deve ser abordado com a moto equilibrada na vertical, evitando ao máximo interagir com qualquer interferência estando inclinado – uma vez que nesse estado a moto já tem tendência natural à perda de tração e atrito. Seguindo o mesmo raciocínio de equilíbrio, o ângulo de interação deve ser o mais perpendicular possível à face do objeto com qual se está prestes a ter contato. Evite passar por valetas, por exemplo, em ângulo acentuado para não correr riscos da roda dianteira derrapar e haver alguma perda no controle. A excessão para essa regra angular seriam os obstáculos proeminentes, como lombadas. Nessa circunstância, deve se observar o tipo da moto e principalmente a sua distância livre do solo. As motos da categoria "custom" tem, em sua maioria, pouca distância livre, e combinada a uma distância longa entre seus eixos, proporciona a facilidade de raspar o fundo e até mesmo "entalar" sobre a lombada. Nesse caso, opta-se por passar em ângulo diagonal ao obstáculo, permitindo assim que ambas as rodas o toquem em determinado instante, evitando raspar peças que podem até comprometer o funcionamento da moto. Basicamente é o mesmo procedimento que carros esportivos e baixos usam para passar angularmente sobre lombadas, que facilmente pode ser observado no trânsito.

Postura corporal

Para a maioria das motos é válido dizer que na transposição de qualquer obstáculo deve se utilizar a técnica da transferência parcial de peso para trás no início da interação da roda dianteira com o problema, e a transferência gradativa do peso para frente, no início da interação da roda traseira. Para obter esse efeito, o piloto deve se levantar um pouco acima do banco, apoiado com os pés nas pedaleiras em posição de acionamento das respectivas alavancas. Movimentando o quadril para trás, retira peso da roda dianteira, favorecendo uma interação de menor impacto para essa roda. Ao mesmo tempo, nesse instante a roda traseira recebendo maior carga, também passa a ter melhor contato com o solo, favorecendo a tração. Assim que a roda dianteira passa pelo obstáculo, o quadril deve ser reposicionado agora para a frente, aumentando o controle sobre a roda dianteira e aliviando o peso da traseira. Assim que transposto o obstáculo, volta-se a postura padrão podendo se retomar o contato com o assento da moto.

Identificando diferentes obstáculos

Ao erguer-se nas pedaleiras, o piloto transfere para baixo o peso de seu corpo que estava antes praticamente todo apoiado no banco. Com isso o centro de gravidade da moto também é impulsionado para baixo, favorecendo o equilíbrio e a estabilidade. Essa postura em pé nas pedaleiras objetivando transferência de peso está associada ao tipo de obstáculo e o quanto ele pode interferir no equilíbrio da moto. Quanto maior a diferença entre o pavimento que está rodando e o do obstáculo, maior será a necessidade de transferir o peso. Para esclarecer melhor, imagine um pequeno buraco com as bordas suavizadas – a suspensão da moto daria conta de absorver essa imperfeição sem que houvesse necessidade de se erguer nas pedaleiras. Mas se o obstáculo for uma guia de calçada com 20 cm de altura, sem a mudança postural corre-se o risco de amassar a roda e até cair.

Experimentação

Por fim, conheça sua moto. Experimente interagir com diferentes tipos de obstáculos para se familiarizar com o que sua moto tem para lhe oferecer em termos de absorção de energia através do conjunto de suspensões. Identifique a partir de quais tamanhos e formas de obstáculos torna-se necessária uma mudança postural, ficando atento aos ângulos com que incide sobre eles. Tenha também em mente que qualquer obstrução de seu caminho deve implicar diretamente em uma profunda desaceleração – quanto menor a velocidade, menor será o risco de uma consequente queda. Divirta-se!


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