segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SuperBikers ou SuperTolos?

Um convite à reflexão sobre atitudes que temos frente à velocidade

Esse artigo é endereçado diretamente aos usuários de motos esportivas, mas pode beneficiar genericamente pilotos de outras categorias também. Recentemente escrevi a respeito da responsabilidade que temos como motociclistas em cuidar da imagem que passamos para a sociedade, porque gostando ou não, todos somos afetados, através das diferentes políticas e leis criadas para conter situações que poderíamos evitar com um pouco de reflexão.

Perícia ou negligência?

Os números crescentes das estatísticas não deixam dúvidas – estamos na contramão da razão. A quantidade de acidentes com motos esportivas nas estradas demonstra que cada vez mais, pessoas despreparadas têm acesso a equipamentos sofisticados de engenharia, e por não saberem como usar, acabam incorrendo em erros que custam caro não somente a elas, mas a todos nós motociclistas.

Exagero? Basta acessar o You Tube e pesquisar nomes como Amparo, Serra Negra, Morungaba ou Joanópolis – cidades serranas do interior paulista, consideradas o maior reduto da motovelocidade no país. Esses nomes, ligados a moto, localizam mais de 5.000 vídeos postados por usuários onde uma enormidade de barbáries é constatada, com direito a mortes filmadas ao vivo. E com que finalidade? Talvez para satisfazer a curiosidade mórbida de quem assiste. Seja como for, pode se notar que os autores estão se exibindo – querem ser notados pelo arrojo de andar com o velocímetro travado em 299 Km/h, ou fazer uma seqüência de curvas com o joelho no chão. Porque não demonstrar isso pra uma platéia de verdade em uma pista de corrida?

Ambiente adequado

Não vou ser hipócrita e dizer que não acho linda a plástica do movimento, ou que eu mesmo nunca tenha exagerado em algumas circunstâncias, mas observem aonde esses intrépidos buscam descarregar sua adrenalina – em um ambiente onde um trator trafega em plena rodovia a 30 Km/h, ou um bicho saí correndo do meio do mato – e nem vou me dar ao trabalho de citar a enormidade de "domingueiros" que também são usuários dessas mesmas rodovias.

Sou adepto e devoto da velocidade – ponto. Tenho a mão pesada, sim. A diferença é que aprendi que isso não é pecado quando praticado em lugar apropriado, onde não exponho outros aos meus delírios. E se outras pessoas estão próximas, é porque são tão adeptas quanto eu, ou seja, estamos todos no mesmo barco e na mesma direção.

E essa é a tônica desse artigo – se você é proprietário de uma esportiva, gastou um dinheirão com "Power Commander", filtro, escapamento, amortecedor de direção, pneus esportivos e usa a moto na estrada, tenho uma péssima notícia pra te dar: jogou dinheiro fora! Seu lugar é num autódromo, cercado de toda a estrutura necessária para explorar esses e outros equipamentos de desempenho. Em uma estrutura fechada, pode se usufruir de toda essa tecnologia sem colocar em risco outras pessoas que simplesmente não tem nada com isso. E não é só a questão da segurança, mas qualquer desempenho somente vem do treino, de passar diversas vezes pelo mesmo lugar, explorando cada centímetro de pista na busca de um melhor tempo. Simplesmente não há justificativa para tentar obter algo parecido em uma rodovia pública.

Diálogo

- Ah! Mas o acesso aos autódromos é restrito, alguém diria.

Mentira. Qualquer um pode acessar se cumprir as regras impostas pelo esporte. E não tenha dúvidas – são regras desenhadas para a segurança de todos.

- Não gosto de regras, por isso ando na estrada, replicaria.

Mesmo na estrada há regras. Se você infringir alguma, pode ser punido com uma multa ou até com a própria vida. As punições na pista, pelo menos são menos rigorosas.

- Mas onde moro não tem autódromo.

Problema seu. Ponha a moto numa carreta ou então vá com ela mesma para onde existe um. Você não tem o direito de expor ao risco de morte outras pessoas somente pelo seu prazer de acelerar.

- É muito caro, diria outro.

Gastou mais de 30 mil reais na moto, uma fábula em acessórios para ela, em equipamento pessoal e fica chorando por cerca de R$ 300 para desfrutar um dia em autódromo? Tenha dó! Ademais, se não tem o dinheiro para sustentar seu "brinquedo", devia vender e comprar um patinete.

- Os meus amigos só aceleram em estrada.

Troque de amigos e fique vivo pra apreciar o que conseguiu conquistar na vida.

- Gosto de passar pelos outros como se estivessem parados.

Você é louco e tem que ser internado em um hospício. Se você acha que é rápido mesmo, vem provar isso pra outros pilotos em uma pista, ou será que você só é valente com quem não pode te enfrentar?

- Autódromo é chato. Só ficar naquelas mesmas curvas o tempo todo...

Aí é que está a graça! É onde maior velocidade pode ser obtida – praticando num mesmo lugar. Você acha mesmo que consegue decorar em um dia 50 Km de curvas em estrada? As estatísticas dizem que não.

- Na pista não consigo dar tudo que a moto tem.

Encurta a relação e vai conseguir, só que com um pouco menos de velocidade.

- Mas quero andar a mais de 300Km/h.

Eu também, mas as variáveis em uma estrada pública fazem com que não valha à pena. Minha vontade pode se transformar em pesadelo pra minha família em um décimo de segundo.

- Ouvi dizer que um monte de gente cai na pista.

Verdade. Não dá pra fazer omelete sem quebrar alguns ovos. Mas pelo menos não caíram embaixo de um caminhão, ficaram espetadas em um bambu no meio do mato ou tiraram a vida de pessoas inocentes.

Poderia gastar linhas e mais linhas argumentando e o resultado seria o mesmo – um autódromo é muito mais seguro e sensato do que a estrada para a prática da velocidade. Não há justificativa lógica que sustente essa prática em um ambiente impróprio.

Pilotar com toda a segurança não é tão complicado. Informações podem ser obtidas junto a Federação de motociclismo de seu estado ou junto à Confederação Brasileira de Motociclismo. (www.fpm.esp.br ou www.cbm.esp.br).

Respeite a vida, respeite o motociclismo. Acelere sim, mas aonde não imponha risco a outros. Te espero na pista!

8 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo, muito real e direto !

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  2. Obrigado Pietro,
    Divulgue para os amigos. Quanto mais pessoas se conscientizarem, menos problemas teremos no futuro.

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  3. Adoro moto, sempre falo e explico a diferença entre ser MOTOCICLISTA e MOTOQUEIRO, mas por causa de alguns inconsequentes, somos julgados como loucos... até achava q carregava essa bandeira sozinho...
    Parabens pelo blog, muito bom ter acesso a informações imparciais, sem merchan...
    Vinicius Alves Osasco-SP vyniciuz@gmail.com

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  4. artigos assim deveriam ser publicados em revistas.....jornais e veiculados na tb em horário nobre!!!!!

    parabéns Nenad!!

    kleber cfr - orkut

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  5. Na realidade este é um fenomeno mundial ! O cara compra uma moto racing e vai pra estrada, de preferência de serra, mostrar pros amigos, que ele é o rei da montanha e muitas vezes ou acaba se matando ou matando outras pessoas. Oportunidade pra andar em autodromos existem, eu mesmo sou um que incentiva para que aquele grid do Serra Azul, se mude pra interlagos. Mas é um trabalho dificil pq muitos como vc mesmo disse arrumam desculpas mil pra não ir !! Belo texto e que todos reflitam sobre ele, principalmente nós que amamos a velocidade, mas com segurança e em local adequado. Grande abraço !

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  6. PARABÉNS PELA MATÉRIA,Deveriamos massificar esta idéia de que devemos e temos a obrigação de cuidar da imagem do tanto amamos que é o Motociclismo....

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  7. Evilásio C. de Araújo Filho20 de fevereiro de 2010 às 00:21

    Maravilhoso artigo! Parabéns!

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  8. VEJA ESSA MATÉRIA VAI DE ENCONTRO: http://www.dkh.com.br/ler-artigo/2291/31/

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