segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Enfrentando estradas de pista simples


Dicas de pilotagem e comportamento em estradas de pista simples

Nessa série de duas matérias abordarei a dinâmica da pilotagem em estradas de pista simples, e com duas ou mais pistas, na matéria seguinte. O objetivo é identificar os problemas mais comuns relativos à condução de uma moto e otimizar todos os recursos para promover uma pilotagem segura, eficiente e prazerosa.

Primeiras considerações
Comecemos por definir as estradas de pista simples – as que possuem apenas uma via em cada direção, normalmente separadas apenas por sinalização horizontal (faixas). Essas estradas são em sua maioria de porte pequeno e são consideradas vicinais quando na região há estradas multi-pista que ligam as principais cidades. Independente da qualidade do pavimento, de serem retas ou repletas de curvas, sempre serão as mais perigosas por obrigarem veículos de diferentes portes a se cruzarem com relativa proximidade e em velocidades críticas.

Visibilidade e posicionamento
Um dos aspectos mais importantes a se considerar nesse tipo de ambiente, para a moto é certamente a visualização – ou a falta dela, colocando mais apropriadamente. É dificil se posicionar nesse meio de maneira a ser visto o tempo todo, de forma que tudo que possa fazer para se tornar mais visível para o meio, será válido e contribuinte para sua segurança. Tenha em mente que a moto nesse ambiente praticamente desaparece, uma vez que vista tanto de frente quanto de costas, parece apenas um ponto luminoso à distância. Considere um dia ensolarado, totalmente propício à uma viagem, e ela tende a desaparecer por completo, uma vez que a luz ambiente se equipara àquela fornecida pela moto. Um bom posicionamento então se torna essencial.
Opte, sempre que possível, ocupar a parte central da pista, próximo à faixa que divide as duas pistas, aproximadamente aonde passam as rodas esquerdas dos carros. Tanto em reta quanto em curva, o posicionamento permite que a moto seja vista mais cedo do que se estivesse no bordo interno da via, onde pode ser confundida – em certas circunstâncias – com os arredores por onde passa. Mas para poder tomar tal posição, é necessário poder cumprir outros quesitos: a moto e seu piloto tem que ser capazes de desenvolver no mínimo a velocidade média dos outros veículos, no momento tratado. Se pelas características da via, da moto ou de seu usuário isso não for viável, é preferível adotar uma posição no meio da faixa que lhe cabe ou então a extrema direita da via. Se esse for o caso, indica que de alguma forma o conjunto moto/piloto está em defasagem com o meio, tendo que exercer significativa atenção com tráfego que incide por trás, fora de seu âmbito de visão. Essa é a pior situação para o conjunto, pela dificuldade em administrar situações fora de seu controle.
Estando em condições de cumprir essa premissa, o posicionamento à esquerda de sua via lhe permite ter um ângulo de visão privilegiado em curvas, identificando possíveis enfrentamentos com tempo suficiente para manobrar para uma posição mais apropriada, como o centro da sua pista, no momento de cruzar com outro veículo. É preciso tambem levar em conta a direção das curvas – para a esquerda, possuem maior ângulo de visão de toda a via por englobar a pista contrária, enquanto as para a direita, tendem a diminuir esse ângulo de visão, frequentemente obstruído pelas características geográficas em que essse tipo de estrada se encontra. De maneira genérica, durante as curvas em estradas de pista simples, o posicionamento central da via que lhe cabe atende a maioria das circunstâncias com propriedade – estando no centro, cria a possibilidade de mudança de direção tanto para dentro quanto para fora da trajetória, sem invadir a pista contrária ou o acostamento (se existir).
O posicionamento, no entanto, é apenas parte do conjunto de medidas que devem ser adotadas pelo motociclista nessa circunstância. De nada vale estar bem posicionado se a velocidade ou o tempo de reação forem inapropriados para o momento.

Configuração em curvas
Para garantir os melhores recursos para atender uma situação emergencial, devemos ter em mente que a moto deve ser configurada para a curva de maneira a obter os melhores resultados de sua geometria e capacidades.
A velocidade em curvas deve seguir à risca o modelo que compreende no mínimo dois segundos de visão para um ponto no limite interno da curva analisada. Isto é, olhando para o solo no limite de visão da curva e encontrando uma referência fixa – como uma placa, por exemplo – iniciando uma contagem mental , não deveriamos estar passando por esse ponto antes de completados os dois segundos.
A marcha escolhida deve ser tal que permita revoluções medianas do motor, possibilitando que seja tanto acelerado quanto desacelerado, garantindo dessa forma a amplitude de opções.
A inclinação almejada deve seguir o mesmo critério, buscando-se uma inclinação que seja em seu ápice a metade de sua capacidade total, obtendo-se assim os recursos para mudar o raio da curva tanto para mais, quanto para menos. Novamente, obtem-se da ação, a amplitude de recursos no caso de ter que lidar com uma circunstância inesperada.

Retas, subidas e descidas
Já para as estradas mais retas, o posicionamento deve levar em conta o deslocamento aerodinâmico existente quando dois veículos se cruzam. Notando a aproximação de outro veículo, o motociclista deve gradualmente mudar sua posição para a metade externa de sua pista no momento do cruzamento, uma vez que o ar deslocado pelo outro veículo pode causar alguma instabilidade para o motociclista.
Tome bastante cuidado nas estradas que compreendem subidas e descidas frequentes. As subidas são sempre criticas por afetarem quanto de visão temos, impactando assim diretamente na capacidade reacional. É prudente se posicionar de maneira a estar pronto para uma ação evasiva, colocando-se como em retas, na metade externa de sua pista, aproximadamente aonde passam as rodas direitas dos carros, no topo da subida. Nas descidas, fique atento a outros veículos executando ultrapassagens, sinalizando sempre sua presença com lampejar de farol alto. Tenha em mente que boa parte dos motoristas tende a menosprezar a moto e por vezes "forçar" uma ultrapassagem de outro veículo sem ainda ter cruzado com você, obrigando-lhe a uma mudança rápida de trajetória. Desagradável, mas muito recorrente nas nossas estradas.

Inserido no contexto
Por fim, tratado o posicionamento correto em retas e curvas, velocidades e configurações para a moto nessas circunstâncias, é hora de incluir o dinamismo do tráfego para analisar qual a melhor estratégia para se inserir de maneira a gerar segurança para si e para os demais.
Escolha as estradas que melhor se adequarem às capacidades de sua moto – você deve ser capaz de manter a velocidade média do fluxo da estrada estando em velocidade de cuzeiro da sua moto. Se isso não for possível, adaptações terão que ocorrer impactando diretamente no nível de segurança obtido.
Em situações de tráfego intenso, posicione-se próximo à linha divisória das pistas, permitindo ser visto não apenas pelos motoristas no mesmo sentido, mas também pelos que vem em sentido oposto. Evite ao máximo ficar atrás de carros ou veículos maiores – seu tempo de reação fica limitado à distância que tem desses veículos.
Mantenha uma velocidade relativa compativel com a situação – esteja em condições de ultrapassagem, mas somente exerça se as velocidades permitirem que as pessoas ao seu redor percebam sua intenção e se posicionem de maneira a indicar terem lhe visto. Na dúvida, jamais ultrapasse. Tenha em mente que deve sair da sua pista, invadir temporariamente a pista em sentido contrário e depois retornar. Isso demanda tempo e capacidade – tenha certeza que sua moto é capaz de executar a atividade em tempo apropriado.
Evite ultrapassar próximo ao veículo ultrapassado – pode não ter lhe visto e ele próprio tentar a manobra sobre o da frente. Ao assumir a postura de ultrapassagem, certifique-se de ter sinalizado corretamente sua intenção e de que aqueles ao seu redor entenderam a intenção.
Jamais ultrapasse em curva. Mesmo tendo espaço suficiente, um motorista vindo em sentido contrário, pego de surpresa pela situação, pode se assustar e comprometer a segurança de ambos.
Não tenha pressa. Lembre-se que está em um veículo que certamente chegará à frente daqueles que o rodeiam. Só cabe a você garantir essa possibilidade adotando as medidas cabíveis.
Pilote sempre bem equipado com roupas e capacete de uso motociclístico, mas sempre se lembre que de nada lhe ajudarão se o processo decisório que utiliza para a solução de interação com o meio estiver equivocado. Pense em todas as atitudes de forma coerente e meça antecipadamente como afetam outros usuários da estrada. Boa viagem!

2 comentários:

  1. Parabéns pelas instruções! Ótima postagem, muito elucidativa. Sempre tive dúvidas a respeito e me faltava uma leitura adequada como esta.

    ResponderExcluir