terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Rodando no deserto


Conheça um pouco das belezas e desafios de rodar por regiões desérticas.

Somos agraciados e privilegiados com diversos trechos desérticos no continente Sul Americano. Além do clássico Atacama, temos a Tiera Del Fuego e a Patagônia Argentina (Atlântica, Central e Andina) caracterizada pelas longas retas e ventos fortíssimos nas estradas. Também não podemos esquecer os desertos do norte peruano costeando o oceano Pacifico e, ainda, o belíssimo e surreal altiplano andino na Bolívia, com centenas de quilômetros de areia, pedra e sal. No Brasil, o Jalapão no estado do Tocantins é um dos representantes desse meio desafiador com suas estradas de areia.  

A sensação de viajar de moto por qualquer tipo de deserto é intimidadora. Nada impede que você saia por aí no estilo “easy rider” e encare qualquer distância, mas recomendamos muita atenção quando transpuser alguma região desértica, pois as chances de poder pedir socorro em caso de necessidade diminuem muito. Deserto é, literalmente, deserto! É aonde, bom preparo e planejamento fazem diferença.

Uma característica bastante comum a todos os tipos de desertos são as amplitudes térmicas acentuadas – é a diferença entre as mais altas e as mais baixas temperaturas em um local. Pela falta de cobertura vegetal e consequente perda de calor do solo, poderá haver um calor infernal durante o dia, mas, à noite, certamente as baixas temperaturas serão agudas e perigosas. No Atacama, por exemplo, pode variar de 0°C durante a noite até 40°C durante o dia. Para enfrentar esses extremos, os padrões de segurança recomendam portar uma barraca de acampamento por conta de uma eventual emergência. Será muito bem vinda em uma situação não programada.

Atacama
O deserto mais árido da região está aqui, bem ao nosso lado, – o Deserto do Atacama no Chile. Sua aridez, mesmo estando próximo ao oceano Pacífico provém de sua altitude, que dificulta a passagem de nuvens oriundas do oceano, chovendo muito pouco, portanto. Situado no norte do Chile, este é um destino bastante procurado por moto-viajantes, pois o visual muda à todo momento, nos deliciando com paisagens de tirar o fôlego. Seus 105 mil quilômetros quadrados guardam segredos e belezas para todos os gostos. Gêiseres, esculturas de pedra, vales e o vulcão Licancabur com seus 5.920m de altura são algumas das belezas que aguardam os corajosos que lhe visitam.
Cada deserto apresenta características próprias e marcantes. No caso do Atacama, a temperatura cai muito rápido já no final da tarde, o que acaba lhe tomando algumas boas horas de viagem. Aproveite mais as horas da manhã recolhendo-se em local seguro antes do cair da noite, principalmente nos trechos de cordilheira. Uma boa dica de planejamento e segurança é nunca sair sem saber onde e quando vai chegar, e se possível, deixar alguém ciente dessa informação. A distância, o consumo de combustível e o tempo estimado para travessia são fundamentais para projetar se existe tempo disponível naquele mesmo dia para realizar todo o percurso. Para esse efeito, também é importante saber a autonomia da sua moto, conhecendo a capacidade do tanque e se ele é capaz de atingir a próxima cidade ou ponto para abastecimento pelo consumo apresentado.

Dica
Se for necessário levar combustível extra, é apropriado que busque antecipadamente por recipientes próprios para o transporte deste líquido volátil. É preciso ter em mente que o transporte de combustíveis em veículos não específicos para esse fim é proibido na maioria dos países. Por isso, caso seja abordado pela polícia local, procure usar o famoso "jeitinho brasileiro", - seja cordial e lembre-se que você está errado. Vale mais à pena uma boa conversa do que uma discussão que pode lhe causar aborrecimentos. São poucos os casos de roteiros na America do Sul que necessitam obrigatoriamente de combustível extra. Obviamente isso também varia conforme o modelo da moto. De qualquer forma, pesquise com antecedência por onde pretende passar e veja se existem pontos de abastecimento no roteiro, adequando suas paradas em função do que sua moto pode produzir. Tendo de usar galões extras, certifique-se de colocar no tanque esse combustível assim que houver espaço suficiente, evitando transportar a gasolina fora do seu compartimento natural. Além de diminuir os riscos naturais do transporte, a medida ajuda a manter o centro de gravidade da moto equilibrado e centrado.

Terra do Fogo
Na Terra do Fogo o clima é geralmente hostil e severo. Baixas temperaturas e ventos fortíssimos em todas as direções certamente vão colorir as histórias da sua viagem. Um vento soprando à 80 km/h nas suas costas fará a viagem render absurdamente, enquanto que se ele for frontal ou lateral, fará parecer que sua moto perdeu metade da potência. Em alguns trechos da famosa Ruta 40, por exemplo, onde o pavimento é rípio (off-road), o perigo é um vento lateral que pode causar instabilidade na trajetória da moto e até mesmo quedas em lugares retos e planos. São inúmeros os relatos deste tipo de incidente. Normalmente, a diminuição da velocidade permite melhorar o equilíbrio – procure manter o centro de gravidade da moto baixo apoiando-se com maior firmeza nas pedaleiras.

Pan-americana
As características mais marcantes do litoral norte peruano, em especial a famosa “Ruta Pan-americana”, são os longos trechos desérticos que surgem entre grandes cidades. Uma pesquisa prévia é importante para nunca passar por qualquer uma destas cidades sem encher o tanque de sua moto, pois à frente haverá um longo trecho isolado com céu nublado, propiciado pela névoa que vem do oceano Pacifico. Fique atento, pois a situação pode dificultar bastante a visibilidade. O visual é fantástico, assim como o desafio.
                             
Salar de Uyuni
Na América do Sul, também existem outros tipos de desertos, embora menos convencionais, que são os chamados “Desertos de Sal”. São locais de extrema beleza, mas que requerem os mesmos cuidados ao serem explorados. Nestes, destaca-se o Salar de Uyuni, localizado no sudoeste da Bolívia, com respeitáveis doze mil quilômetros quadrados de área. Mesmo tendo um solo propício à visitação em motos (trails), não é indicado que você faça uma exploração mais profunda sem aparelhos de GPS. Ocorre que, devido a suas enormes dimensões, é quase impossível a marcação de pontos de referência visuais para se guiar, sendo muito fácil se perder no meio da imensidão. Nas épocas em que o Salar se encontra alagado, com uma fina camada de água cobrindo todo o seu território, é impossível definir a linha do horizonte – onde começa o céu e termina a terra.
Se, por medida de segurança em qualquer viagem motociclística é aconselhável que se leve água e algumas barras de cereais para casos de emergência à beira da estrada, nos casos dos desertos de sal, isso é ainda mais importante.

Altiplano Boliviano
O altiplano Boliviano é repleto de atrativos como o Lago Titicaca, Carretera de la Muerte, Circuito de Lagunas e Desertos, entre outros. Os pavimentos são diversos, podendo ser de asfalto muito sinuoso, ripio ou areia com formação de calaminas - as famosas "costelinhas de vaca" - e quase sempre acima dos 3500 metros de altitude. O que chama a atenção nessa região são os moradores locais que orientam os destinos em tempo, e não distância. “La proxima ciudad está a dos (2) horas...” e talvez isso represente apenas poucas dezenas de quilômetros. A região sinuosa pode muitas vezes lhe obrigar a rodar em baixas velocidades por lugares de difícil acesso em regiões praticamente desabitadas. Vemos constantemente relatos de camping em locais desertos da Bolívia, mas por questões de segurança sempre aconselhamos pernoitar em um local urbano apropriado e seguro.

Os locais desérticos também tem uma maior capacidade de mexer com o lado psicológico dos viajantes e por isso é importante estar preparado com combustível, alimento, água, e um planejamento sólido. No caso de viagem em grupo é bom conversar com os demais pilotos para que todos estejam em sintonia para encarar os desafios do roteiro planejado. Esperamos que todos tenham ótimas emoções durante a viagem transpondo com sucesso e tranquilidade cada deserto do caminho, rendendo boas estórias e fotos dignas de belos quadros na parede de casa. Boa viagem!

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