terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Pilotando em uma pista de corridas – Experientes


Dicas para pilotos experientes treinarem e se aperfeiçoarem em uma pista de corridas – 1ª parte

Importante: Os procedimentos a seguir destinam-se a pilotos experientes que já tenham pilotado em autódromos e que tenham pleno domínio, tanto da máquina quanto dos procedimentos em uma pista de corridas. Não devem ser utilizados por aqueles que ainda são novos ao meio, cabendo a esses, rever o texto publicado anteriormente nessa coluna.

O objetivo dessas dicas é criar a metodologia necessária para o aprimoramento da velocidade nos circuitos, portanto, parto da premissa de que o piloto leitor conhece o circuito em qual vai pilotar e de que tem pleno conhecimento de todos os aspectos operacionais de sua moto. Por se tratar de tema extenso, será abordado em duas partes, sendo concluido na próxima edição.

A estratégia visa ordenar as ações para que possam de fato refletir a evolução de um piloto em dado circuito. Para tanto, é preciso criar mecanismos rígidos de conduta que irão constituir um padrão a seguir para outras pistas.

Comecemos então por defenir o tempo de trabalho para cada operação, tendo sempre em mente que esse aperfeiçoamento não ocorre de uma hora pra outra ou de um treino pra outro – é um trabalho minuncioso e paciente.
 A primeira coisa a estabelecer é quantas voltas serão necessárias em dado circuito, para aquecer devidamente os pneus e outros componentes da moto. Dependendo da moto e do circuito isso irá variar, recomendando então que experimente com um inicial de duas voltas completas. Entre ao término da segunda volta e meça a temperatura dos pneus. Devem atingir a temperatura ideal de trabalho recomendada pelo fabricante dos pneus. Caso estejam abaixo, talvez necessite de uma volta complementar – a idéia é descobrir quantas voltas deve dar para que o equipamento reflita as condições de uma corrida. Essa saída inicial deve ser feita com as regulagens da suspensão em sua posição mediana ou com setup que já tenha testado e se sinta confortável com. Lembre-se de anotar antes de sua saída esses dados para que não se perca no que está fazendo.

Agora que já sabe quantas voltas deve dar para estar em ritmo de corrida, pode dimensionar quantas voltas terá de dar a cada saída para conseguir sempre um resultado consistente. Entenda por resultado consistente voltas que não tenham variação superior a 0,5 s. Obviamente, para obter esse resultado é necessário que as voltas sejam cronometradas.
Nesse sentido, o ideal é que a cronometragem aconteça de forma automática com cronômetro e sensores na moto e pista, evitando a ação humana que pode acrescentar erro. Se não possuir tal equipamento, uma pessoa será necessária para esse fim, e deve ser orientada para anotar com precisão cada volta que der. O objetivo é conseguir voltas consistentes, e não necessariamente rápidas. Para cada teste de regulagem que for executar, será necessário dar pelo menos três voltas além das de aquecimento, buscando sempre a consistência dentro dos limites que o equipamento apresenta no momento.

A primeira saída deve também englobar o seccionamento da pista em setores,  - normalmente três. O objetivo é poder trabalhar cada setor individualmente, exigindo o máximo de si e do equipamento por menos tempo, fazendo os outros dois setores daquela volta, em ritmo menos exigente. Dessa forma economiza equipamento e energia. Mas nessa fase de seu treino, esse procedimento é ainda desnecessário, visto que deve trabalhar primeramente a pista toda, para somente depois utilizar a forma seccionada para trabalhar trechos específicos. O que é importante é se familiarizar e determinar onde cada trecho começa e termina, para utilizar essas referências em etapas avançadas.

Ao término da primeira sessão, reflita sobre as três voltas rápidas que acabou de produzir. Refaça-as mentalmente e supondo que tenha conseguido um resultado que possa ser considerado consistente (variação inferior a 0,5s), tente identificar pontos na pista onde acha que está perdendo tempo. Na próxima sessão, tente ser mais rápido nesses trechos modificando apenas a pilotagem – mas nenhum componente de ajuste. Meça os resultados obtidos no cronômetro, e se obteve aprimoramento, registre na memória como e o que fez pra produzir esse resultado.

Antes de mudar o setup da moto, experimente com diferentes técnicas de abordagem para uma curva. Tenha em mente que a máxima da velocidade diz: "Se você não estiver acelerando, deve estar freando, e vice-versa." Mas como todos sabem, nem sempre isso é viável. Sempre que atrasar uma freada, comprometerá a saída de curva, enquanto uma frenagem inicial mais branda pode consumir mais tempo no início da curva, mas compensar em uma saída mais rápida. Experimente as duas formas de abordagem e veja qual consome menos tempo. Tenha ciência que em uma corrida, poderá ter de optar necessariamente pela forma menos rápida em função do que estiver acontecendo naquele momento, obrigando–o, por exemplo, a defender sua posição. Deve tentar mediar a questão da velocidade em curva também pelo comportamento que a moto tem em dada circunstância. Considere se o tempo ganho em uma frenagem extra-curta paga o desequilíbrio gerado no ápice da curva, ou se é mais vantajoso estender alguns metros a frenagem, e garantir um equipamento mais equilibrado para o ápice e saída de curva.

As considerações que deve tecer a respeito dessas formas de abordagem de uma curva estão diretamente ligadas à velocidade que a mesma comporta, bem como ao que vem depois da mesma. Em curvas que antecedem trechos de reta, ou de outra forma velozes, deve se privilegiar a ótima saída de curva para aproveitar ao máximo o trecho veloz, e ganhar tempo. A implicação é que a entrada dessa curva acaba de alguma forma sacrificada. Em contrapartida, se a curva prestes a fazer anteceder trecho de menor velocidade, onde não haverá espaço para ganhos, é mais vantajoso sacrificar o equilíbrio, atrasando quanto puder a frenagem, aproveitando assim ao máximo o trecho que antecedeu a curva.

Agora que mapeou o circuito e consegue ser consistente, está na hora de ver o que outros pilotos estão produzindo. Escolha um adversário que esteja apenas um pouco mais veloz em tempo de volta, e certifique-se de que é mesmo o máximo que ele consegue produzir. Muitos pilotos mascaram suas voltas para induzir competidores ao erro, reservando um extra para o dia da corrida. Cronometre os setores dele ou peça que o façam para você. Compare os trechos e identifique onde ele é mais veloz. Evite comparar as motos, mas sim as técnicas de abordagem de um setor. Se for viável, tente acompanhá-lo durante uma volta, para ver de perto como ele atua. Não é a forma mais elegante de tratar o assunto, mas com certeza é eficiente. Pilotos experientes não se deixam copiar, frequentemente analisando quem vem atrás deles – principalmente quando uma competição está por vir. Se for o caso, desista. Acabará apenas por perder seu tempo e desgastar seus pneus e o restante do equipamento.

Somente quando esgotar essas possibilidades será o momento de começar a mexer em sua moto tentando diferentes regulagens para obter maior velocidade. Na próxima edição, tratarei desses ajustes e estratégias de corrida na conclusão dessa matéria. Até lá!

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