Saber usar corretamente os freios pode
lhe ajudar em situações difíceis
Há exatos três anos, dei início a essa
série de matérias relativas a segurança motociclística. A parceria com a
revista Moto Adventure permitiu que assuntos da mais alta importância para o
motociclista fossem abordados de maneira franca, aberta e participativa,
contando sempre com idéias, perguntas e sugestões de nossos leitores e
colaboradores. Agradeço, de coração, à todos que de alguma forma contribuiram
com esse trabalho!
A primeira dessas matérias tratava de um
assunto que sempre deve ser relembrado, pois faz parte de nossa rotina na
pilotagem – o uso dos freios. Por ser de vital importância, abordo-o novamente
sob uma ótica ligeiramente diferente da que fiz há três anos, dando maior
ênfase à forma de execução e como treiná-la.
Componentes
São quatro os componentes que promovem a
desaceleração de uma moto:
- Arrasto
aerodinâmico
- Freio motor
- Freio
traseiro
- Freio dianteiro
Na matéria inicial, foi tratada a
estratégia de uso desses recursos e explicada sua ordem de grandeza por
eficiência – agora abordo um pouco mais sobre seu uso operacional e a
metodologia para seu treino.
Frenagem
emergencial
A forma como decidimos operar cada um
dos comandos de frenagem de uma moto é crucial para a segurança, pois além de
comprometer diretamente a distância até a parada, compromete a estabilidade que
a moto terá durante o processo.
Usarei como referência a frenagem
emergencial – a mais crítica – por envolver falta de tempo, distância e impacto
psicológico. Quando nos deparamos com essa situação, algo de errado já
aconteceu – possivelmente, mais de uma coisa. É hora de manter o sangue frio e
exercer o máximo de sua habilidade para não transformar uma situação difícil em
catastrófica. Para que essa compostura possa ocorrer, é necessário o
entendimento de que a prática é fundamental para a eficiência – e tratarei
disso mais adiante.
Manuseio
Tanto o freio traseiro quanto o
dianteiro possuem dois estágios em seu acionamento, uma vez que ambos os
comandos possuem uma folga entre a posição de descanso do comando e o
acionamento dos freios propriamente dito. Em outras palavras, a frenagem não
começa assim que o manete do freio dianteiro começa a ser manuseado, mas um
pouco depois em seu curso, onde ele começa a oferecer maior resistência. Com o
pedal do freio traseiro acontece da mesma forma.
Torna-se então importante notar, que é
relevante como manuseamos os comandos durante esses estágios, pois tratá-los
como sendo ação única, traduz-se em rápida perda de controle da roda, por
travamento. Chamamos isso no motociclismo de "alicatar" o freio,
devido a semelhança no manuseio da ferramenta. Quem já passou pela experiência,
pode relatar a sensação desagradável da eminência de uma queda, por ter travado
prematuramente a roda dianteira – simplesmente, perdeu-se a direção da moto.
Mesmo sendo o tempo crucial, o piloto
deve cumprir essa folga de comando de maneira suave, para que o contato inicial
também o seja. Através desse contato inicial com os freios suavizado, evita-se
o travamento das rodas e os freios podem exercer a função de desacelerar o
movimento, por promoverem maior atrito dos pneus com o solo com o qual estão
interagindo. Um pneu que esteja derrapando, não possui a mesma capacidade de
frenagem de um pneu que esteja rodando sobre o solo em processo de
desaceleração. Assim sendo, jamais a distância de frenagem de uma roda travada,
será inferior a de uma que tenha sido trabalhada em movimento de rotação sobre
o solo, e esse é o princípio que rege a construção de freios com ABS – sistema
que evita esse bloquieo das rodas.
Assim que o contato com o freio é
atingido, existe uma mudança no manuseio, passando a ser firme, enérgico e ao
mesmo tempo, progressivo. O quanto de energia aplicada depende de uma série de
fatores, como velocidade, distância para frenagem, peso da moto, capacidade dos
freios, aderência do solo, entre outros. Como pode ver, muitos são os elementos
que devem ser julgados pelo piloto de uma moto ao executar uma frenagem
emergencial.
A pressão sobre o comando deve crescer,
objetivando identificar o limite de aderência de um dado pneu sobre a
superfície em questão. Normalmente, os pneus oferecem comportamento bastante
comum à diferentes tipos de motos – quando no limiar, tendem a emitir um som
estridente no asfalto e abafado em terra
ou superfícies lisas. Normalmente a sensação que acompanha é de um "quicar"
da roda por sobre o pavimento, alertando o piloto de que está prestes a
derrapar. A excessão (à regra) são as supefícies extremamente lisas, como gelo,
ou contaminadas por fluídos, como óleo ou diesel – nessas quase não existe
alerta para o travamento.
Como
e porque proceder
Por serem tantas as situações, e tão
diferentes umas das outras, é necessário que o motociclista experimente
diferentes comportamentos em diversas instâncias.
A melhor técnica é utilizar-se do freio
traseiro inicialmente, procurando atingir o ponto de travamento daquela roda. A
perda de atrito na roda traseira não compromete significativamente o equilíbrio
ou dirigibildade da moto, uma vez que não atinge a roda que lhe dá direção e
controle sobre a inclinação. Uma vez experimentado, pode-se passar ao freio
dianteiro, lembrando-se que esse sim, é crítico. Seu manuseio equivocado ou
exagerado, quase sempre resulta em queda.
Se não constituir experiência de
comportamento que sua moto tem em diferentes pavimentos e situações, não estará
apto a exercer o melhor de si em uma situação real de emergência. Abro um
parênteses aqui, para dizer que a aviação tem os mais baixos indices de
acidentes, porque as tripulações são exaustivamente treinadas na questão
emergencial – preparando devidamente os envolvidos, até sob ótica psicológica,
para uma eventual realidade. Seguindo o mesmo princípio, nós motociclistas,
deveriamos adotar essa política de treino, para garantir o conhecimento
necessário e aptidão prática – a nossa realidade prevê que, muito provavelmente,
teremos de utilizar esse conhecimento em alguma instância.
Escolhendo
lugares
Para que possa exercitar suas frenagens
em diferentes ambientes é preciso que esteja em sintonia com o meio, e produza apenas
o necessário, sem que isso tenha qualquer impacto para os demais usuários da
via em que opera. Para tanto, regras são fundamentais:
- Escolha
diferentes trechos em linha reta – experimente o comportamento em
pavimento plano, bem como subidas e descidas. Por uma questão de
segurança, evite fazê-lo em curva. Os riscos nessa situação são maiores,
mas ainda assim, educativos.
- Certifique-se
de não comprometer a segurança de qualquer outra pessoa, exercitando-se
quando não houver ninguém por perto. A manobra de frenagem pode ser mal
interpretada, tanto por usuários quanto por autoridades. Tenha em mente
que uma brusca mudança de velocidade presenciada por alguém, pode assustar
e implicar em atitude, que pode comprometer uma pessoa que não tenha
ciência de sua intenção.
- Experimente
os mesmos lugares em diferentes condições – lembre-se que pneus,
pastilhas, discos ou lonas sofrem desgaste e acarretam comportamento
diferenciado ao longo do tempo. Você deve ter a oportunidade de sentir
essas nuances para que possa obter o máximo de desempenho em uma frenagem
tida como emergencial. Da mesma forma, note que pneus frios e quentes
também tem comportamentos distintos, perfazendo distâncias singulares em
frenagem.
- Temperatura
e umidade do pavimento também afetam as distâncias de frenagem assim como
a velocidade, portanto, trabalhe esses aspectos também, para se educar de
que forma afetam o desempenho dos freios de sua moto.
O sistema anti-travamento das rodas que
cada vez mais está presente em nossos veículos, também pode ser encontrado em
uma boa gama de motocicletas. Apesar do sistema ser desenhado para não deixar
as rodas travarem, independente da pressão que se exerça sobre seu comando
operacional, é preciso que o usuário se familiarize com essa
característica e se eduque quanto ao
comportamento que a moto terá quando o sistema estiver sob uso. Com o sistema
ativo, o limite de aderência dos pneus não pode ser atingido, e assim, qualquer
que seja a pressão, o travamento não ocorrerá. Mas mesmo assim, usar a técnica
de manuseio dos freios para motos sem esse dispositivo, pode gerar mais
confiança ao usuário e retardar o acionamento do ABS. O mesmo vale para motos
que ainda contam com combinação de freio dianteiro e traseiro em um único
comando – testar e experimentar são as
palavras de ordem.
Conclusão
Uma frenagem bem feita pode ser a
diferença entre colidir e não colidir contra um obstáculo – é de suma
importância seu treino exaustivo. Procure praticar pelo menos uma frenagem
desse tipo a cada saída que der com a moto. Se não for viável, programe-se para
fazê-lo com regularidade. Além de deixar os reflexos polidos, a mente aguçada e
o equipamento aquecido para um acontecimento real, vai lhe educar quanto a
diferentes pavimentos.
Não se esqueça de sempre preservar a
vida, colocando a segurança em primeiro lugar. Nunca ofereça risco à outros, e
quando executar o procedimento, esteja sempre totalmente equipado, portando
capacete, jaqueta, luvas e calçados próprios para o motociclismo.
Bom treino!
Nenad como sempre quero te dar os parabéns. Vi que vc participou da copa ninja, minha dúvida é:
ResponderExcluirEssa motinho realmente é boa?
Da para brincar muito numa serra?
Obrigado e forte abraço!!!
Tudo depende de como quer brincar... rsrs
ResponderExcluirA Kawa é no mínimo uma proposta decente. Estável, bom motor e freios e excelente ciclística. Se dá pra brincar? Eu me diverti com ela na copa ninja e veja que andei com uma totalmente original.
Mas se quer brincar de verdade, esquece a serra e vem pra pista! O divertimento é maior e além disso, bem mais seguro. Abs! (seja lá quem vc for! rsrsrs)
Como sempre, postando um ótimo comentário. Vi que vc participou com ela original e na chuva, chegando em segundo. Parabéns.
ResponderExcluirIsso que estou fazendo, vendendo uma 600 e dando um tempo da rua para realizar esse sonho!!!
Forte abraço.
Pra quem anda de 600 vai ficar um pouco entediado na pista com uma 250...dá vontade de descer e empurrar...rsrs Mas ainda assim, é divertimento puro!
ResponderExcluirUma coisa é certa:
Interlagos 1 vez na semana = semana inteira de sorriso!
Divirta-se!